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segunda-feira, 14 de julho de 2008

sentir

Shyamalan, além de transformar árvore nalguma coisa ameaçadora, um professor secundário de tênis brancos em herói, transformou uma equação exponencial em terror.


E tendo saído do cinema acostumado ao medo, reagi com ele ao que seria de candura, de desânimo da alegria.


Pois foi como terror com trilha sonora aguda que rememorei das penas que me deram ontem, em dois momentos isolados da tela escura da televisão para folgar do sol bonito demais do dia claro.


Rapidamente:


Na TVE, o caranguejo pobre movia lentamente as patas e tirava uma formiga, depois voltava e tirava outra, enquanto neste hiato eram dezenas ou dezenas de milhares as que, após descobrirem um ponto fraco entre suas juntas, nas quais a carapaça não o salvava, na alcunha de soldadas lhe raptavam os membros sem lhe raptar a vida ainda.


No Faustão, num quadro de humor, um humorista tinha de atingir um índice num aparelho virtual ao qual chamavam risômetro, e os segundos foram se indo, o índice não atingido, ele gaguejou e pediu desculpa.


Usando da bizarrice e dos gêneros como arma para ambigüidade, mergulhamos numa experiência áudio-visual sensorial (ecos do domingo passado) de arrebatamento, seja pelo terror, seja pela esperança. E embora ríramos, embora nos comovêramos, pagáramos e batemos palmas também para sentirmos medo. Tudo é do espetáculo (no melhor sentido da palavra, no sentido de aplaudir em pé num teatro).


Mas do medo extrai tudo contíguo a ele: assim a coragem, a imperfeição. Nas tais transformações que falava, Manoj Nelliattu faz com que as esperança e pessimismo brotem da mesma terra.


Então sentir medo é bonito.


E de ver não ser o que se é por importância tanta a alguma coisa – gaguejar, ficar nervoso – como de ver algo só e vivo acompanhar a própria morte e mesmo assim tenta escapar, numa certa inocência, numa certeira impotência.


E por coisas assim a piedade normal e estranhamente nos repleta o espírito.


E tanto é espetáculo que a imagem isoladamente de um caranguejo submetido a um ataque coletivo de formigas é de fluidez tão harmônica que bela, se nos despirmos da amizade que fazemos com o caranguejo.


Então se a apego inútil enfeie a música do espetáculo, talvez seja um mal este cuidado, pois o mundo tem de ir para frente e aos vencedores as batatas.


E talvez assim se encha o peito para que dê alívio a esta pena que se dá, as notas altas de suspense, e o coração precisa ser mimado, sentir-se útil, quando o resto todo sabe que aquilo é assim mesmo.


Mas deixemos a selvageria aos animais.


Aplaudamos também os que fracassam.


Que no fim são espetáculos todos. São nomes (fracasso e sucesso, medo e coragem etc) que a gente fica dando. Que a gente fica girando a mesma moeda. O coração só se enche e se esvazia, e algumas coisas aceleram, desaceleram ou impedem este processo.


Bonito é sentir.

sábado, 5 de julho de 2008

a chuva

a chuva


sempre um bom sinal


ainda há água


há céu


há chão

Violino tocar

Esta mensagem é efêmera, tem validade somente por esta tarde, caso não lida no prazo certo, cumpra-se uma regra agora arbitrariamente posta: determina-se que não haja prescrição nos casos de entrega de pão quente e flores recém colhidas do mato, bem como correios eletrônicos enviados em virtude de tardes muito bonitas, aplicar-se-á o mesmo para anotações explicitadas verbalmente, em qualquer hipótese. Também, que a tarde hoje será bonita, já que a manhã já foi e eu irei almoçar brevemente para degustá-la, isso, aliado à noção não oficial do que lhe é indiscutível e patente, obrigou-me a fazer um comentário um tanto vago, muito lírico, um pouco óbvio: se tudo é metáfora, então nos resta não fumar, dançar diariamente [teu amigo "Nitch"¹] e andar bastante de pés descalços.


Há uma sensível diferença entre os vinhos, mas é a sensibilidade que faz o violino tocar.


[do_danúbio]

rapsódia dominical atrasada de atraso justificado








n




a Eliana (a dos dedinhos, a de se pôr a mão inteira, as palminhas também) de domingo último (que já não é mais o último, ao longo do texto explico) um cão adestrado, que são cães que não comem carne, somente ração, não no chão, mas na mão (as paupérrimas rimas – ou riquíssimos ecos – são para reforçar o tom de sempre que se tem nisso, poema pobrão, pobraço – e probidade, aproveitando a deixa, que se tem nisso), a fim de que equivalha a um prêmio. Por outro lado, a lei 9.503, o CTB, Código de Trânsito Brasileiro, alterada pela lei 11.705/2008, não determina que se dê dinheiro ou que se dê isenção (e normalmente não se dá nenhum dos dois, no máximo um descontinho no IPVA antecipado) para quem sempre foi certinho, para quem, quadrado, nunca bebeu uma gota de álcool porque ia dar uma volta na quadra (à esquerda 4x ou à direita em igual nº) para secar o carro. O fato que a única coisa que eu sabia que fazia as pessoas não beberem era o antibiótico. Agora esta lei.


No domingão do Faustão (paupérrimas rimas calham aqui também) tigres que não comem carne, tigres domesticados, que são tigres de Kanchaburi, que são tigres cuidados por monges, se é que são os mesmos constantes na revista Discovery Magazine de outubro de 2004 (um ano que durou mais de um ano para mim) edição nº 3 (3 de outubro eu nasci, mas não de 2004, pois teria 4 anos ou este ano faria 5 na data dita, o que me tornaria um fenômeno do crescimento) por cuja posse paguei oito reais e noventa centavos (R$ 8,90). Digo isso porque eu via o imortal se firmando como líder do campeonato num aparelho televisivo, e isso dos tigres aparecia no outro, pois estava num bar por não ter querido ir ao campo naquele dia, e bares têm mais de uma TV, e distribuídas em mais de um canal pois nem todos são gremistas, e nem todos gremistas querem ver o jogo do Grêmio. E vi porque tigres são fascinantes, fascinantes, são cânceres da natureza, então digo tudo isso pois assisti à matéria sem som, e com a atenção (tensão não houve, pois os tigres estavam dentro da televisão e o tricolor vencia fácil) permutada entre uma TV e outra.


No ZH, Marcos Rolim mui oportunamente falava da vergonhosa demissão do motorista do Palácio Piratini. Vide vós que andei pelos veículos populares (não me refiro aos carros mil, ou carros mis, se houvesse plural neste mil-adjetivo) e sim a isso que me referi (TV aberta, jornais de maior circulação em suas terras).


Em suma, aqui são episódios de domingo último, dia vinte e dois de junho de dois mil e oito (22/06/2008), portanto um texto atrasado, mas o tempo me não importa muito, não nesse sentido, de sucessão, de ordem, de medida, de mensurar informações, pois elas cá estão ainda. E se me proponho a falar do ônus da ordem nada melhor que me livrar dele.


E finalmente o atraso justificou-se justamente por causa dele: hoje, já quinta-feira (que devido a novo atraso não é mais hoje, mas sim semana passada, e agora, neste momento, terça, dia 1º de julho de 2008), já passadas mais de 96 horas do domingo (e agora horas e horas), antes de sair de casa ouvi uma reportagem que quem via era outra pessoa a respeito de uma rosa que nascera espontaneamente sem espinhos em Fortaleza.


Uma rosa sem espinhos.


Chamam-na Iracema, homenagem à sedosa pele da célebre personagem de José de Alencar (s/ “de” é o Ilmo., ou V. Ex. a., ou ainda “apenas” Sr. Presidente em exercício quando o Lula não está, ou simplesmente o vice).


É certamente umas das metáforas-chave, essa da rosa ter espinhos.


E neste caso ela não tem. Uma subversão-chave, diria, com propriedade de quem disse o que agora mesmo disse.


Era uma verdade, uma regra quebrada. E neste caso, a regra quebrada metaforiza a regra instituída: tirar os espinhos da rosa.


Voltando àquele domingo, no domingo meu, de vida privada, meu avô, o seu (não seu de teu, seu de Sr. (ou V. Ex. a., ou Ilmo., tanto faz, tipo seu Madruga) Marcolino, disse (o que era para ser epígrafe deste):


“Se eu bebo um copo de vinho não me muda nada.


Agora, se eu tomo um tanto assim (indicou com o dedo o equivalente a menos de 100 ml, acredito) de cachaça, não é que me dê sono nem nada, me dá coragem.”


Seu Marcolino


Meu patrão na repartição disse o seguinte na segunda seguinte àquele domingo:


“Eu não gastei um centavo este final de semana (isso num contexto que, mais que dar a entender, dizia (entanto sem todas as letras) que foi porque teve de dirigir e portanto não bebeu). ”


Meu patrão na repartição



Vide vós as vantagens da vida regrada. Do cão não comer carne.


A colheita da lei (da ordem) já aparecendo. E da ordem para o progresso, como diz a nossa bandeira, ou pelo menos a bola (esfera) azul que há no meio dela, segundo a qual eles, a ordem e o progresso, podem ser mesmo considerados uma dupla, enfim, dela para ele é um tapa.


Já vislumbro novas leis: a proibição de quaisquer tamanhos (e não somente a mini, que por sinal nem é proibida) de saia para evitar brigas em bares, para evitar ciúmes e conseqüente atos violentos e conseqüente homicídios culposos e/ ou dolosos.


A proibição de garotas (algumas) gostarem de rapazes rebeldes (alguns), a fim de evitar que rapazes empinem motos, bicicletas, pipas (o perigo da rede elétrica), executem saltos mortais em piscinas (perigosíssimo) e tantas outras façanhas apaixonantes dignas dos mais interessados e interessantes olhares femininos.


É certo que a estética canina carrega consigo o sacrifício, vida de cão, underdog, cão do caralho, eu não sou cachorro não, e o sacrifício remete a treino, que talvez seja a palavra que eu deveria ter usado, claro, sacrifício para alguns, mas confinamento de atividades num modo geral. Então o cão do lobo foi-se disciplinando (uma miríade de anos treinando, até na sua indisciplina, de cometer erros, aproximando-se dos humanos e à imagem e semelhança (em tentativa) desses) até tornar-se cão. E os cães são potencialmente piores que crianças, são piores até que a Casadovinho (tema a ser abordado em seguida), e o que os faz ficar bem é o cumprimento das ordens, é o que, oprimindo-os, torna-os melhores.


E além disso a lei incentiva o transporte coletivo, o táxi (uma coisa meio NY), posto que ninguém quer ser motorista, especialmente conduzir ébrios no próprio carro sem poder se tornar um deles – nem a opção de, na impossibilidade de ir contra, juntar-se ao inimigo. E talvez o mesmo faça com a boêmia local, ir a festas a pé no próprio bairro, até o momento de proibirem andar na rua bêbedo (ok, está foi uma ironia exagerada e, portanto, devido à semântica dessa palavra, desnecessária). Já não se bebe mais em estádios no RS, e quase tivemos ano passado Grenal campo único, quase vira no seio de seu espetáculo maior só GRE ou só NAL. Pois sim, se não bebermos quando dirigirmos não haverá problemas.


Algumas abstenções sempre fizeram bem aos budistas, aos militares, aos abdominais definidos entre outros felizes exemplos.


Mas há ossos do ofício. Há mesmo mortos do ofício.


O rei do Chapolin, o rei que ganhou a roupa que só os inteligentes podiam ver, que em verdade me fez lembrar o Hans Christian Andersen, que em verdade tal rei, o Rei Nu, era seu, e fora adaptado por Roberto Gómez Bolaños, assim como o foram Chaplin (ou melhor, Carlitos) e Peter Sellers (ou melhor, Inspetor Jacques Clouseau), por isso, sem desmerecer o grande trabalho do Chave del Ocho, eu prefiro o Carlos “Quico” Villagrán, que aliás fez, e muito bem, o papel do rei pelado, pelado de inteligência, inclusive, pois não via o tecido, ou astúcia, pois não percebeu a fraude, porém, voltando ao que dizia, penso que não se tratava efetivamente de tal rei, pois o monarca que eu tentava lembrar e lembrei o rei nu, era em verdade um rei que fazia uma lei conforme as coisas sucediam e é bem famoso justamente por este hábito e me ocorreu que como eu confundi talvez confundira-se o Hans Christian Andersen ao pensar que o rei de Roma cuja roupa o rato roera era o rei da roupa fraudulenta de sua imaginação tão fértil que teve esta imagem semeada como se idéia dele mesmo fosse.


Uma colega minha cujo nome não citarei mui oportunamente me informou que eu deveria trocar meu carro, o qual eu adquiri em 2006, apesar de ser modelo/ano 2005, e mesmo na concecionária e 0 o quis assim, atrasado, pois era o modelo de minha preferência, enfim, o meu, o Trovão Azul (homenagem a um peixe beta morto pela sua esposa na infância em vista da nossa ignorância em relação aos hábitos acasalares de tal espécie), já teve seu 2º aniversário comemorado, beira os quarenta mil km, já tem suas marcas, por isso tudo oportunamente me disse a inominada colega que ano que vem vem o novo modelo, que na Europa já seria velho, ou ao menos sabido, mas sabido, no outro sentido, é o meu, que sabe me deixar o levar aonde eu quero quase automaticamente e já esconde as coisas que eu esqueço quase como se soubesse isso também. Virão novos Clios (que também é uma das nove musas, aquela que carrega um moleskine escrito Thucydide na capa, que inventou a guitarra, e que pode bater no peito de dizer eu sou a musa da criatividade e da história – essas duas realmente andam muito próximas, se pensarmos na invenção de histórias, bem como nos atos que fazem alguém participar da versão real da história, aquela ciência humana, no caso). Sim, novos Clios virão, mas não novos trovões, pois trovões são meio que raios, e portanto não repetem seus fracassos, sucedem num lugar só, seu sucesso muito se deve a seu fracasso, então, a este tipo de fracasso sempre inédito, então novos trovões não vêm, ou o ditado está errado, ou foi ditado errado.


Se eu acatasse o conselho dado (e não vendido) pela minha colega, isso me deixaria mais rico, mais avançado, mais progredido – tudo o que uma nação ou qualquer lugar que mantenha uma bandeira gostaria de ser. E me deixaria sem meu Trovão.


Trovão é chamado também o rugido dos tigres.


Mas a quem e para que ruge um tigre vegetariano, ou onívoro, ou mantido a rações, que seja? Que, nascendo, tendo sido planejado para matar, não mata?


Um tigre sem garra é uma coisa triste demais; porém um tigre com garras que as olhando se pergunta para que as tem talvez seja duas vezes mais triste, ou talvez pior ainda o tigre que caça bolas e nem sabe que poderia estar vivendo do que brinca, estar caçando um antílope, ou até um búfalo, ou até um urso, com a emoção de ter de vencer para comer, ter na caça a vida em vez do hobby, e este é o caso mais triste destes três tigres tristes e porquanto seja três vezes mais triste, já que antes foram duas e simples.


A Amy Casadovinho está p/ lá da casa do caralho, ou para lá de Bagdá, ou Marrakesh, enfim, isso segundo a imprensa, e me surpreende até que haja surpresa nisso, que isso não é novo, e os jornais chamam-se NEWSpappers, embora em português seja Jornal (diurnale, de diário – e, sabemos, nem todos os dias são diferentes). Enfim, novamente, a moça de voz tão bonita (ou a voz de uma moça tão inquieta) faz coisas que a maioria das pessoas não acha bonito, mas para ela creio que seja, senão não faria. O prazer sempre é bonito para quem o sente, mesmo que por fora possa parecer feio ou ridículo. “Deixa ela (sic.) quietis”, diria Mussum, ou beberia mui felizmente da sua bebida (hic)(de soluço). Coisa que nenhum dos dois deveria ter feito tanto (e tampouco Vinícius, e todos os exemplos que vêm em flash nas nossas cabeças), mas talvez se não tivessem feito não falaríamos deles agora, ou daqui a pouco, que seja.


A (in)conseqüência da vida selvagem, do tigre comer carne.


Sua ordem é a selvageria. É com a selvageria que os animais se organizam melhor do que nós, a menos que nosso caótico sistema seja um organismo organizado se visto de fora, sem as sensações de quem o sofre por dentro, stress possivelmente dividido pelos animais também dentro de seu sistema que externamente parece perfeito (como dizem, a natureza é perfeita).


Se a ordem comum dominasse a Whinehouse talvez ela prendesse sua poderosa voz, seu harmonioso trovão. Muito do que ela faz é proibido. Mas a quem quiser lhe ordenar, ela ruge:


No, no, no.


Não, não, não.


Na, na, na,


ni, nã, não.


Havia um velho que sempre passava o dedo no gargalo da garrafa de azeite de oliva. Sua esposa igualmente sempre dizia que era uma falta de educação para com os outros presentes à mesa. E é em defesa dele que eu falo um pouco – a coisa brechtiana de margens opressoras com caras de santinha.


Como o punir?


Se ele faz o que lhe é de instinto fazer, exerce seu prazer.


Tire as crianças da sala, não mude a sala por causa delas.


As crianças que sejam protegidas. Os não-fumantes que fiquem nas salas fechadas. Os incomodados que se retirem.


Porém no escuro de cinema eu ainda mato um mastigador exagerado de pipoca.


Então o chupador de azeite de oliva incomoda.


Como o punir?


Aí vem a lógica do velho do saco. E quem quiser o desafiar que desafie.


Controle da selvageria tem de ser moderado, para que a selvageria se modere espontaneamente, sob pena de, oprimida, ela, como uma mola, voltar-se mais e mais forte contra quem a impede, contra quem a impele não poder ser.


O bom senso cuidaria disso. Mas no Mc, se sai um pedido errado, eles jogam no lixo, jogam dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebolas, pepinos e pão com gergelins novinhos direto no lixo. Do contrário o pedido errado seria objeto de ocorrência intencional com fins de benefícios ilícitos, do tipo levar um nº 1 grátis, ou uma batata média, ao menos. E eu aposto com vocês que ia dar muito. Infelizmente. Então nosso bom senso precisa ser censurado, sob pena de virar bagunça. Ou espinhos, talvez.


Precisamos da lei. Evidentemente. Precisamos de punição severa para quem se torna uma arma letal no trânsito (ou em qualquer outro lugar). A parte da tolerância zero não é boa, aliás, a tolerância zero à parte – tolerância zero é piada, e piada da cômica personagem do cômico finado Milani.Tolerância existir sempre é bom, o seu excesso é tão ruim quanto qualquer excesso, e sua falta é tão ruim quanto qualquer falta.


Alguma alcoolemia ao trânsito não nos fará mal. E querem resolver com a lei a várzea que era até agora. Pouco puniram indivíduos realmente assassinos em carros com o rigor que vem sendo punidos os copos de cerveja, as taças vespertinas de vinho que fazem bem à saúde e os brindes de champanha.


A minha colega é super legal, mas como ela vem se meter na minha vida?


Como esta lei da porra me aterroriza?


Não mais (talvez) poderemos tomar uma e voltar para casa devagarzinho, quase parando, tomando cuidado.



gancho = metáfora : trovão tigre três coragem outubro (revolução) proibido atraso mudar ordem progresso atraso bola opressão tolerância selvageria flor nascida espinhos rosa domingo tv regrada quebrada erudição etc



Eu pensava no fim do (daquele, agora) domingo no poema I, 3 dos Sonetos a Orfeu, porque o havia lido, na rima ABABCC (na tradução de Augusto para o português BR, a língua brasileira, que o próprio Augusto vem ajudando a construir) vs. ABACBC (original de Rilke), e na materialidade, ou somente no movimento mesmo, das palavras próximas alento/ vento, Verrint/ Wind. E num poema quase seguinte a este, o I, 11, da conjunção dos astros e alegria por crer na ilusão. “Vem que a felicidade mora aqui, tudo é ilusão” cantaram também no domingo popular da televisão aberta do nosso Brasil, Didi e Dedé, juntos novamente, como a ordem e o progresso. Agora falta só o Dadá Maravilha, o Dodô artilheiro dos golos bonitos e algum Dudu por aí, e daí teremos um quinteto vogal, que poderá ser vocal ou de qualquer outra atividade.


E no fim da grade televisiva comercial daquele domingo um programa local o Tele-Domingo (o qual há tempos não assistia por me deixar depressivo ao lembrar-me da segunda-feira vindoura e conseqüente tédio incutido nela por causa de um sistema rotineiro de aquisição de dinheiro), que, aliás, talvez seja o que de melhor a RBS nos dê, dava uma reportagem sobre eutanásia animal, e eu penso que o cão pela incondicionalidade com que se entrega é realmente o melhor amigo do homem, e não poderia o Uísque ser sua versão engarrafada, posto eu ter pensado (e citado – o nome, não alguma frase) em Vinícius lembrei-me disso, pois antes disso o homem é o melhor amigo do Uísque, até por ter lhe dado a vida ao lhe libertar dos grãos, o contrário do que fez com o cão, de cujo qual privou-lhe a selvageria (mas talvez tenha o libertado do lobo e talvez o uísque também seja incondicional).


E parei em amigos pois falávamos (se considerarmos isso uma conversa) em cães, e falei (ou falamos, então) em Didi e Dedé, Quico e Chaves, amigos que foram e voltaram, que são mas não foram muito tempo e hoje aqui no centro de Canoas cantavam a música Amigos para Sempre naquela versão brasileira, aquela da primavera ou qualquer das estações, e isso, hoje, 4 de julho, ajude a justificar o atraso. E o atraso é também um recurso conceitual que lanço mão não espontaneamente mas me apropriando do acaso como Pollock talvez tenha feito da tinta e tantos outros exemplos, pois a maioria do que aqui escrevi relativo à lei seca no trânsito foi no calor da hora, e isso permanece atual, há notícia todo dia, é a Isabella Nardoni do momento.


E o Hababaca, fora a coisa de nos trazer o drástico de Bufallo Bill para nossos tempos, fora a coisa de mostrar que a realidade da morte não é tocante, pensemos no exemplo do cão: o cão não se sabia preso.


Talvez não saibamos o quanto estamos presos.


Ou não valorizamos o saber de estarmos vivos. E livres, do que se pode dizer ser vivo por excelência.


Então é preciso viver urgentemente. Ou libertar-se para isso, também urgentemente.


Transformar a pressa em prática, em coragem continuada em vez de pessimismo adquirido, ou invés mesmo, pois isso semanticamente simboliza o contrário (ao invés de ir, voltou, descer, subiu) para poder desamarrar-se, para não morrer.


Pois amarrados morreremos. E morremos aos poucos.


O que faz do ser humano ser mais humano?


O ser humano vem sendo domesticado.


O cão é mais cão quando é mais lobo ou quando é mais gente?


O cão é cão porque não é completamente lobo e porque não é completamente gente.


O ser humano para matar ou para criar uma obra-prima desvia-se do mesmo modo do comum.


Abster-se do comum para se extremar. Abster-se do comum imposto.


E ainda assim humano.


E emerge do coração uma necessidade de erudição, de se livrar da TV aberta, da janela aberta que nos encerra nela. Uma jovem nua para um jovem padre. Uma doce flor aflorando bonita e cheia de adjetivos e pleonasmos. Para verter o processo contrário, e resgatar verdades da profundidade atemporal e não imprimi-las em superfícies sazonais. O sacrifício pela beleza, nem que seja uma beleza que sirva a mim mesmo, somente, o sacrifício de criação.


A Arte é uma ferocidade.


A maneira de achar felicidade é a ferocidade de cada um.


Du mußt dein Leben ändern.


A abstinência faz dos cães mais cães e dos tigres menos tigres.


quinta-feira, 3 de julho de 2008

vitória/ derrota

O Thiago Neves marcou três gols, além do que marcara no Equador. Após ter feito o segundo gol ontem, mordeu a camisa de modo que o símbolo do Fluminense ficou logo abaixo de seu rosto. A imagem estava pronta para entrar para a história, para cravar nos corações de todos os tricolores fluminenses, de cada um que, usando a camisa de pixel, transformou o templo maior num grande ovo da páscoa alvi-rubro-verde.


Após escapar de tudo, após ir tão longe, após se livrar de todos os problemas, por causa de alguns detalhes hoje está sem nada nas mãos. E o vazio pesa demais, a ponto de se tentar, como se fosse possível, refazer aqueles detalhes.


A derrota é isso.



Ingrid Betancourt, após ter vivido tanto tempo pescando a liberdade e depois tanto tempo imersa na prisão, após ir tão longe, após se livrar de todos os problemas, reencontra os filhos, a mãe e finalmente a liberdade, sua mãe e também sua filha. Apesar de tanta carga, está levíssima. A ponto de tentar, como se não fosse impossível, desfazer tudo que passara.

A vitória é isso.

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