.^^.

.^^.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Escaneamento intermitente de momentos para fotomemorização

Quando as direções opõem-se e esse cruzamento benigna e oportunamente é fruto também de caminhos rotineiros, há que investir num processo construtivo: é preciso disciplina diária com o horário e coordenadas da passagem; é preciso mapear dia a dia o rosto, e dentro do rosto os seus olhos, a boca nele, em volta dele o cabelo – se necessário, focar num lote predefinido por dia, inda que atento a improvisações (talvez numa ajeitada de cabelo revele-se a orelha), e sem desprezar a fundamental impressão geral do resto, o conjunto, das transições dinâmicas para capturar a lógica do movimento e poder o simular mentalmente. Inicialmente, mister fazer algumas associações plásticas, mas não exagerar com referências humanas para não substituir o objeto original por uma personagem sua, uma atriz vinda de outras memórias. É preciso treinar a montagem da imagem, repeti-la, ajustar o esboço, a fim de que a lembrança seja fiel, seja como presente nos outros oitenta e seis mil trezentos e noventa e poucos segundos que não aqueles alimentados pela luz primordial entre uma sessão e outra. Da tua via, ofereça-se no melhor ângulo e, aparentando a outra parte o mesmo, pára, posa, confira a hora no relógio, inventa algo para ter esquecido e justificar sua paralização, amarra o cadarço, sei lá, um carro que impeça de atravessar a rua –ofereça generosamente tua imagem para ser fotomemorizada. (Todavia equilibre também isso com a efemeridade, para que a dúvida lhe beneficie no magnetismo da curiosidade.) E, já se tratando de um paraíso, de estratégia a longo prazo, quiçá converse, grave a voz, encoste.
Tecnologia do Blogger.

Arquivo do blog