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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

[notas_sobre] The Wrestler (O Lutador)

O filme The Wrestler é a materialização da frase "os anos 80 não morreram" e aí se percebe que o tempo não perdoa, é preciso evoluir com ele. A década só permanece viva com o artifício do Ready-made, da referência: as festas com o Sérgio Mallandro, as imagens pixeladas, as saias-balonê de hoje em dia estão inseridas num outro contexto – a década de 80 em si é o jogar Nintendo, é algo que na sua forma original fica desconfortável no presente, evidentemente porque é passado. A forma é contrastada pelo conteúdo: os solos de guitarra não cabem no estilo de filme independente, que aceitaria bem um folk, um indie rock – do mesmo modo que "O Carneiro" não cabe no lado de trás de um balcão de frios. E nada melhor que um filme de luta em que o lutador luta uma luta fingida (professional wrestling) para mostrar as rugas da década que estreou o hiper-realismo.

Porém, a despeito força Mickey Rourke/The Ram (esta exploração do ator e da mescla de sua vida pessoal ao de seus personagens arquivados no imaginário coletivo vem sendo explorado há tempos por Clint Eastwood e já não pode por si só ser a força de uma obra), o que o filme não faz ao delatar uma tão fragilizada década de 80 é perceber nele mesmo sinais de envelhecimento dos anos 00 (ainda vivos, mas já cansados nalguns pontos). A câmera-na-mão-seguindo-a-personagem à Gus Van Sant em Elefante (genuíno neste caso, de não atingir a verdade mesmo mostrando o fato) me parece cair numa estilização estéril – ainda que seja uma solução segura.
O apelativo (mas competente) solo de guitarra inicial em Sweet Child of Mine convocando-o de volta ao ringue-palco é um belo oásis de emoção, à moda épico-clichê, e consegue superar este aparente defeito para denotar um momento da personagem genuinamente, mesmo risco enfrentado e vencido pela cena do balcão de frios.
Eis um trecho da crítica de Luiz Carlos de Oliveira Jr., da Contracampo, p/ futura sessão (Motorcycle Boy) e complemento da nota:
"A voz de Michey Rourke sempre trabalhou numa frequência mais baixa se comparada à de todas as outras vozes, mas quem melhor explorou isso foi Coppola: a voz sedativa do Motorcycle Boy parece descolada de seu corpo, aspecto expandido por uma composição de ambiências dissonante, onde o espaço sonoro soa praticamente estrangeiro ao espaço visual."
Assisti ao DVD final de semana passado.

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