O pé num salto alto (desafiando o destino plantígrado, quase para se tornar felino), especialmente através do metatarso, é o nó de duas forças opostas – uma ponta, a de cima, segue para uma parte musculosa, volumosa, forte, quente e prática; a outra, a de baixo, dilui-se para a delicadeza, para o adorno – cartilagens exclusivas.
A parte que aponta para cima sugere uma cavala. A de baixo, uma guriazinha de tranças.
Na dúvida entre as duas, rendemo-nos.
A continuação das panturrilhas é sempre um [encantador] mistério: seja para cima (saia), ou para baixo (sapato).
As falanges separadas das coxas nem parecem poder dividir o mesmo corpo, especialmente o mesmo membro.
É como as lingeries: aquele lacinho no meio de dois peit|ões|os: cute e cio concomitantemente. E, como aqueles desenhos em que aparecem a velha e a moça ao mesmo tempo (mas uma de cada vez a todo o momento), ou Freud e uma mulher pelada, não há como resolver o embate.
Apesar de toda a vontade angustiante (num dos pouquíssimos casos em que a angústia canta em vez de gritar) ante tanta lascívia, haverá sempre o ursinho de pelúcia, o choro no final do filme: o fato de bochechas e bundas estarem num mesmo corpo é um indicativo de que estas coisas devem coexistir. E sem contar que ainda há um cérebro, que não se importa com nada disso.
Mui brevimente [COMING SOON] isso fará parte do VÁ.pdf#-1 (uma pequena, mas pequena mesmo, prévia está aqui), como trecho daquilo do que realmente faz parte, que é um livro que tenho escrito (sem disciplina, apenas anotando o que vem - e que de tanta coisa talvez a solução seja optar por um estilo fragmentado) desde o início de 2006 e que logo, logo começarei a despejar aqui (inclusive divulgando o título, que é ainda anterior). E não custa dizer, já que pensei em romance fragmentado e isso fatalmente rememora Rayuela, que fatalmente me lembra o Inagaki, mas que fatalmente antes disso foi por ler este post dele que me inspirei a pôr aqui esta parada hoje - neste novembro em que as saias começam a aparecer (ou a tapar o que apareceria). E não custa dizer que é uma tentação associar a palavra falange ao verbo falar, e a palavra embate à empate, mas isso pode ficar para depois, pois trata-se primordialmente de uma obra em progresso.
Adorei, lindo texto! Que venha logo esse livro!
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