A delicadeza é mais ou menos épica quando captada. Qualquer coisa o é: há nesta captação quase o contrário de captura. Seja um cisco em zoom máximo colado à íris, seja o detalhe que é tudo na contemplação. Percebe-se algo, que antes era e tão somente, e sempre fora e tão somente, mas agora (convém chamar agora a tal instante) é, mas não mais apenas é, mas é miraculosamente, miraculosamente é. E não se sabe se mais vingança ou mais recompensa, mas a coisa rebate o arrebatamento de sua privacidade invadida na proporção absurda de E = mc², do átomo que engole a metrópole ao ter seu segredo descoberto. Encostar-se à verdade. E por breves instantes falar sua língua única e óbvia, como Dvořák derrete o som de uma porta fechando vagarosamente para fechá-la de vez com seu violoncelo, ou como um tigre devora um boi e o transforma primeiro em sono depois em salto. Em tal linguagem compulsória emprega-se muito mais esforço do que qualquer mestre pudesse esperar do discípulo o mais dedicado: a demanda na nitidez com que de repente as coisas se apresentam. Ou melhor, parecem se apresentar, visto que de fato quem põe o palco somos nós: elas estavam sempre ali; nós não estávamos. Até agora.
.^^.

terça-feira, 28 de junho de 2011
quarta-feira, 22 de junho de 2011
iLugares
Não sei se isso é comum (e assim lhes pergunto “não sei se isso lhes é comum?”), mas há uma base de imagens de lugares nos quais nunca estive e que costumava justificar como vindas de sonhos ou situações imaginadas, mas que seguramente posso afirmar apenas que são um conjunto de imagens específicas (portanto não são apenas lugares, mas lugares registrados de um determinado ângulo, ponto de vista, como um déjà vu sem áudio e sem as demais coincidências, ou seja, como a parte visual de um déjà vu (ou déjà vécu, como queiram)); esta base de imagens parece estar bem guardada na minha memória, tamanha precisão com que são visitadas e mesmo revisitadas, mas, a despeito de esta estabilidade sugerir uma localização profunda, elas estão muito perto da superfície, de modo a sempre emergirem involuntariamente durante minha rotina (não posso afirmar que diariamente, mas pelo menos semanalmente, embora ache mesmo que sejam diárias e dentro deste limite variadas vezes suas aparições), e com tal frescor que eventualmente me permito o exercício de buscar randomicamente algumas delas para ter a sutilíssima sensação (quase um som) de meu cérebro (ou mente, para ser inda mais sutil) pesquisando, remontando a imagem exatamente como ela foi seja lá quando tenha sido. Que estão incrustadas na minha memória é ponto resolvido, a questão é como pararam ali. Em princípio descarto a hipótese de outras vidas vividas, porque geralmente são cenários contemporâneos, ou ao menos não tão antigos. Surge a hipótese de ser um registro de sonhos, mas já noto isso há muito tempo e não houve atualizações no banco de dados com os sonhos que sonhei nos últimos anos, além do que, dos sonhos eu me lembro quase todos e eles vêm sempre acompanhados de sensações, e não raro são protagonizados por pessoas, além de terem sua formação rarefeita típica – e o fato de me lembrar deles tal como eles foram exige a utilização plena da mídia do pensamento. Insisto, assim, que se trata apenas desta base de imagens específicas, inclusive com travellings e outros movimentos incrustados na suas insubstituíveis versões. É-me cara então a hipótese de serem vidas vividas concomitantemente, através de universos paralelos; resolver-se-ia assim a questão da contemporaneidade, porém ainda se é de estranhar a esterilidade dos ambientes (algo que não citara até aqui: quando é uma praça, por exemplo, é como se fosse uma praça sem uso ou sem uso no momento, mas não simplesmente como uma praça à noite, e mais como uma fábrica quando está fechada, ou um parque de diversões que ainda não abriu, num estado de catálogo, dicionário), o que me dá duas justificativas possíveis principais: –a– a de que há níveis de densidade nas nossas vidas paralelas, e talvez algumas tenham uma materialidade concreta visível e destacável até no ar, ao passo que outros se mesclam intersensivelmente nas suas percepções (caso dos sonhos, geralmente), conforme a vibração de cada ambiente no espaço-tempo-dimensão e a vibração por nós exercida nele e –b– a de que realmente se trata de um catálogo ou dicionário disponível para experimentos ao nosso espírito, como um ambiente de teste para nossa alma aprender o mundo concreto. O que é certo é que a investigação seguirá considerando a localização mental: do mesmo modo que tais lembranças estão no meio do caminho entre a imaginação e uma memória de experiência efetiva, talvez se trate de lugares que efetivamente visitei, mas lugares numa espécie de éter que, à maneira da linguagem, refaz todo o mundo, de modo facilmente referencial, porém sem deixar que sua característica midiática o suspenda da realidade.
terça-feira, 21 de junho de 2011
Patience
pés frente a frente ao pé do ouvido fés frente a frente na boca escondida de vergonha não olha os lábios substituídos pelas orelhas lhe dizem não diga nada e o nada repleta que se unem se ajudando a ver mas não não se pode descrever um momento que não se pode ver por não haver visão para isso por isso não há que se dizer nada por isso olhos fechados
sexta-feira, 17 de junho de 2011
feliz das frases infelizes | ULTIMATE DUPLO SENTIDO canoense
É imaturo, pode ser batido e pode ser (se exagerado) aplicado a quase tudo, o que atrapalha uma conversa séria (ou qualquer conversa), além de se basear em piadas sexistas que flertam com a 6ª série (como disse, é imaturo), mas inegavelmente as frases de duplo sentido são engraçadas. É preciso cuidado para o humor viver livremente, mas não tomar conta de tudo, para não macular boas intenções, como no caso de Cléo Pires que tatuou um símbolo que diz "SÓ ENRIQUECE QUEM DÁ", ou meu grande amigo que tatuou o ideograma alegria nas costas (demandando o “quer dizer que NAS TUAS COSTAS É SÓ ALEGRIA?”); mas há outros momentos em que a coisa cai como uma luva, como a Cabeça Camargo mandando um "EU VOU DE RÉ" ao escolher uma nota no Qual é a Música, além, claro, daqueles tantos momentos impossíveis de serem registrados em seu teor mais pateta (cito sem maiores explicações o "cheiro de stickadinho" dito mui gaymente por um amigo, além do inesquecível "PEGA O PAU E PÕE NA MINHA BOCA" dita por um outro que se atrapalhou no repente tentanto tirar onda e, claro, da vez que eu cheguei na sala e, na fracassada tentativa de imitar sotaque italiano, disse "QUE CHEIRO DE PIÇA" ao elogiar a pizza recém saída do forno para a família inteira).
Enfim, o que foi dito nos últimos anos por alguns amigos:
"Eu queria ser enterrado num PT Cruiser"
Matheus, querendo dizer que, de tão fã do veículo, ficaria feliz em fazer dele sua eterna morada.
"Dá p/ fazer cada coisa deliciosa com uma banana"
B., mulher, 55 anos, defendendo a fruta relativamente a relação dieta de emagrecimento x sabor.
"Eu queria um coroa assim p/ mim"
Um cara falou "para minha filha eu deixarei um apartamento, um carro, R$ 100 mil e direi 'te vira'", aí eu, que à época chamava qualquer pai "coroa", quis dizer "eu queria ter uma pai assim".
“O Rodrigo levantou um negócio legal no vestiário”
Vandeco falando, na reunião do time de futebol, sobre uma idéia que o amigo dera no vestiário
"Cruzes, que mangueirão" (enquanto os amigos urinavam num terreno baldio)
Vários jovens embriagados pararam num terreno baldio para urinar; ao ouvir o barulho de água corrente gerada pela ação coletiva, o jovem em questão lançou o comentário num momento que não lhe beneficiava relativamente a precisão de interpretação da frase.
"Que frescurinha gostosa"
Tarde de calor, bateu aquela brisa de verão... resolveu COMENTAR o jumento.
"Vem, João, põe só a cabecinha"
A idéia era fazer uma foto naquele estilo no qual só aparecem as cabeças umas em cima das outros saindo da porta; o rapaz já estava em seu posto e chamou o outro, que estava atrás dele, sem abrir mão do gesto com a mão, do tipo "vem".
"Aí eu tentei por trás e achei bem melhor"
De uma aluna explicando como alterou a posição da máquina fotográfica ao apresentar um trabalho - esta é básica.
“Ontem no banho estava pensando no teu pepino”
De um professional engajado no espírito de compartilhamento de soluções preocupado com o problema de um colega.
Dia de aniversário do colega, eu pergunto "e a comemoração?", responde ele que fará algo somente com a família e eu, querendo dizer que devíamos fazer uma festa fora da Repartição e misturando os amigos, lanço a frase seguinte:
"A gente tinha de fazer uma festinha particular"
___
Assinar:
Postagens (Atom)
Quem sou eu
Tecnologia do Blogger.