Não sei se isso é comum (e assim lhes pergunto “não sei se isso lhes é comum?”), mas há uma base de imagens de lugares nos quais nunca estive e que costumava justificar como vindas de sonhos ou situações imaginadas, mas que seguramente posso afirmar apenas que são um conjunto de imagens específicas (portanto não são apenas lugares, mas lugares registrados de um determinado ângulo, ponto de vista, como um déjà vu sem áudio e sem as demais coincidências, ou seja, como a parte visual de um déjà vu (ou déjà vécu, como queiram)); esta base de imagens parece estar bem guardada na minha memória, tamanha precisão com que são visitadas e mesmo revisitadas, mas, a despeito de esta estabilidade sugerir uma localização profunda, elas estão muito perto da superfície, de modo a sempre emergirem involuntariamente durante minha rotina (não posso afirmar que diariamente, mas pelo menos semanalmente, embora ache mesmo que sejam diárias e dentro deste limite variadas vezes suas aparições), e com tal frescor que eventualmente me permito o exercício de buscar randomicamente algumas delas para ter a sutilíssima sensação (quase um som) de meu cérebro (ou mente, para ser inda mais sutil) pesquisando, remontando a imagem exatamente como ela foi seja lá quando tenha sido. Que estão incrustadas na minha memória é ponto resolvido, a questão é como pararam ali. Em princípio descarto a hipótese de outras vidas vividas, porque geralmente são cenários contemporâneos, ou ao menos não tão antigos. Surge a hipótese de ser um registro de sonhos, mas já noto isso há muito tempo e não houve atualizações no banco de dados com os sonhos que sonhei nos últimos anos, além do que, dos sonhos eu me lembro quase todos e eles vêm sempre acompanhados de sensações, e não raro são protagonizados por pessoas, além de terem sua formação rarefeita típica – e o fato de me lembrar deles tal como eles foram exige a utilização plena da mídia do pensamento. Insisto, assim, que se trata apenas desta base de imagens específicas, inclusive com travellings e outros movimentos incrustados na suas insubstituíveis versões. É-me cara então a hipótese de serem vidas vividas concomitantemente, através de universos paralelos; resolver-se-ia assim a questão da contemporaneidade, porém ainda se é de estranhar a esterilidade dos ambientes (algo que não citara até aqui: quando é uma praça, por exemplo, é como se fosse uma praça sem uso ou sem uso no momento, mas não simplesmente como uma praça à noite, e mais como uma fábrica quando está fechada, ou um parque de diversões que ainda não abriu, num estado de catálogo, dicionário), o que me dá duas justificativas possíveis principais: –a– a de que há níveis de densidade nas nossas vidas paralelas, e talvez algumas tenham uma materialidade concreta visível e destacável até no ar, ao passo que outros se mesclam intersensivelmente nas suas percepções (caso dos sonhos, geralmente), conforme a vibração de cada ambiente no espaço-tempo-dimensão e a vibração por nós exercida nele e –b– a de que realmente se trata de um catálogo ou dicionário disponível para experimentos ao nosso espírito, como um ambiente de teste para nossa alma aprender o mundo concreto. O que é certo é que a investigação seguirá considerando a localização mental: do mesmo modo que tais lembranças estão no meio do caminho entre a imaginação e uma memória de experiência efetiva, talvez se trate de lugares que efetivamente visitei, mas lugares numa espécie de éter que, à maneira da linguagem, refaz todo o mundo, de modo facilmente referencial, porém sem deixar que sua característica midiática o suspenda da realidade.
.^^.

quarta-feira, 22 de junho de 2011
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