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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Big Bang individual ao contrário

A vida toda passar no instante antes da morte não tem nada que ver com um vídeo ou uma apresentação de slides em altas rotações; é sim um acúmulo sequencial de sensações abruptamente revivido (o quase pleonasmo subentendido na essência sequencial da ação acumular está aqui para denotar um acúmulo²).


Tudo o que foi vivido é a extensão de uma mesma energia, que se distende em passado, futuro e presente; no tecido esticado revelam-se pequenas ranhuras apreendidas como tristeza, euforia, paz, fúria, paixão, medo, vitória, jantar, curativo, beijo, prédio, gasoso, premonição, girafa, distância entre a cadeira e a mesa, computador estragado, poste no ponto de destino do carro desgovernado, ver, sono, João, sim, talvez (...) etc.


Na morte, esta faixa espaço-temporal se recolhe a um estado compacto, como um Big Bang ao contrário - um estado de densidade e calor máximos: alguns lembram do calor, e a chamam inferno; outros, da densidade, e a chamam paraíso.


Pois se no acúmulo está o tempo atrelado compulsoriamente ao espaço, a duração se adapta à exata medida de tempo que usamos: é a vida toda, não há dúvida: dura a vida toda de novo: a memória toda lembrada de uma vez, sem entanto haver ocorrência possível de vez – a essência do zero.


À medida que a cosmologia avança, ela parece estar desvendando um crime, e o crime se parece muito com o que os budistas, cristãos, gregos clássicos, indianos antigos e tantos outros povos testemunharam.
Um furacão estudado, do qual a destruição, a parte destruída, a parte preservado, tudo é perceptível, mas o epicentro é sempre uma interrogação.


O limite pode não ser o fim, mas de além dele não sabemos; é como o limite do nosso campo de visão o limite da nossa memória, e como eles o limite do nosso universo.

terça-feira, 8 de maio de 2012

O tempo é favorito

No último 13 de outubro (o de 2011, portanto), escrevi isso, via twitter: “A verdade é que Cronos nunca deixou de devorar seus filhos. Ou ele tem praticado slow food e curtido cada um de nós, ou nossas medidas espaço-temporais, relativas para um titã, fazem de nós grãos variados que ele almoça/janta dia a dia, como arroz”.

Refleti à época que Cronos segue devorando seus filhos, até hoje, a despeito de aparentemente Zeus ter assumido o trono, e depois dele Jesus, e depois Dele, a ciência e o consciente coletivo. Claro, a metáfora é clara: Cronos é a abstração do tempo, quando, segundo a mitologia (cada vez mais corroborada pela ciência, através da astrofísica), só havia o tempo, por ter se rebentado de quando nem o tempo havia ainda.

Enfim, se houvesse uma competição geral entre todas as coisas que existem, o tempo seria o favorito pela vitória (o tempo sempre vence).

Soa desanimador a crua verdade: não podemos contra o tempo.

E aí que devemos ouvir a Bíblia B, os ditados populares: se não pode contra ele, junte-se a ele.

A paciência é a maneira que nós, humanos, as coisas mais engenhosas conhecidas, inventamos para levar o tempo no colo para, sem mais nem menos, e sem ao menos perceber, percebermos que em dado momento (e momento é com ele mesmo), ele que nos passou a levar no colo.

Então tenhamos paciência: tudo acontecerá, arrumar-se-á, venceremos tudo (ou não mais a derrota importará).
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