Sobre alvíssimo
uma janela se abriu pelo tempo suficiente para
que cada fio de luz marcasse sua cara
em prol de uma cara maior.
Não era um papel
(nem camiseta, biquíni, adesivo),
era o rosto.
Tampouco este,
face haver faces ali.
Ele poderia estar piscando, gargalhando,
irritado, em dúvida ou fazendo uma careta,
o cabelo mexendo, o charuto na boca,
uma brincadeira com o charuto usando a careta.
As possibilidades que antecederam e as que se seguiriam.
O mistério: igual.
A fúria: igual.
A felicidade: igual.
Todos iguais num berçário.
Hoje em dia não há tempo para igualdades,
o que repete ou se repete fica um só, o resto se elimina.
Um só representando. Ali, ele.
Ali, ele e o potencial do riso, de fúria, de surpresa.
A voz do povo no linguajar de deus.
Na face séria, as faces todas repousadas,
podendo serem a qualquer momento.
O longe: para receber o olhar;
o botão: para receber o dedo:
a morte de cada fio de luz por uma vida maior,
morta por uma vida maior.
Uma vida menor ante uma bandeira
(camiseta, biquíni, adesivo).
E nós, com a inteligência superior à da fotografia,
no Olimpo de mover-se,
vemos os adultos mortos que na vida da foto
nem nasceram ainda,
que morreram em outubro, nove do dez de sessenta e sete,
mas reencarnaram seus espíritos
sob a forma de outro corpo:
1968
(Poema escrito por volta de 2004, 2005.)
