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coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.
Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.
Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?”
Este texto é creditado ao grande (tão grande quanto Buster Keaton) Charles Chaplin. Recebi por e-mail hoje com a indicação para passar, sob pena de azar, a 10 sortudos em potencial que infelizmente não serão condecoradas com a missão.
Muito poético o texto, claro. Todo devaneio é um pouco poético, até o padre voador é meio poético. E todo devaneio é permitido. Então longe, bem longe de mim criticar negativamente Carlitos – que no fundo Chaplin é Carlitos, tal como Clark é Superman e não o contrário – a despeito dos esforços dos roteiristas em deixá-lo mais humano.
A vida tem de ser como ela é mesmo. Assim mesmo, mesmo assim.
O melhor tem de parecer vir antes, para parecer que o melhor é agora, a fim de que quando o depois vir, o melhor pareça ter sido o depois, ou seja, o melhor sempre pareça ser parte do agora.
Assim se é feliz sempre – desde que se aja, reaja, desde que se tenha coragem – e ter coragem é usá-la.
Até porque tem a anedota aquela dos charutos (que eu prefiro traduzir para bombons, embora charutos também sejam bons): dois homens ganham caixas de bombons com diferentes bombons. O primeiro (ou segundo, tanto faz, mas apenas um deles – que se oporá ao outro) deixa o melhor para depois. O outro (o segundo etc) come os melhores primeiros. Donde que percebemos: um todo dia tinha seu melhor bombom; o outro, seu pior (ou o ruimruim). E tem também a história da seta de Zenão, pois eu tenho a impressão de que quem acha que a infância é melhor que a maturidade são os mesmos que acham que Michelangelo é arte e Duchamp não é.
O tempo às (ou muitas) vezes é incompreendido. Mas ele sabe o que faz com a gente – e ele mesmo é poético. A gente que às (ou muitas) vezes não sabe o que fazer com ele.