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segunda-feira, 5 de maio de 2008

rosa

A ROSA

Fala-se em haver (nos olhos, na boca, na vagina, no coração)
rosas.
Quando ela é uma
orelha.


Quando nela
se escondem os
cabelos como laços
que se voltam sugados um pouco
para trás dela, como se o corpo fosse
um lençol com um peso (ela, afinal) em cima.


Em suma, como se o corpo estivesse sempre deitado,
olhe a orelha:


se falasse, falaria
como criou o corpo todo
ao ouvir cada instrução, para cada parte que,
a partir dela, cega e muda, fora construída. Uma flor, de fato,
semeando.


Ou, se falasse, confessaria
que fora posta no final,
como um adorno último,
que também é uma ferramenta
para o corpo se saber quão belo.


Como um beijo, posto rosa,
não se pode saber ao certo se
veio antes ou depois.


Que com um beijo na orelha
inicia-se tudo, ou com o mesmo
se consagra tudo.


Olha, com calma:
se não falar, ela deixa olhar.
Se falasse, a orelha não seria
rosa.


Ora
se a orelha não fala
é fato que seja rosa:
seu cheiro em sentido inverso
o som.

2 comentários:

  1. Ah João, para poesia assim..louca e linda..não tenho orelhas moucas, escuto e eecuto e saio, silenciosamente, apenas com o som das suas belas palavras.

    Amei, de verdade.

    beijos

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  2. [...] e horas), antes de sair de casa ouvi uma reportagem que quem via era outra pessoa a respeito de uma rosa que nascera espontaneamente sem espinhos em [...]

    ResponderExcluir

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