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segunda-feira, 12 de julho de 2010

{EMPATIA}_Do subentendido no sorriso quieto do Buzz

Dor de garganta, todo ranhento, juntando o copo do chão para desviar da projeção a vista, controle de respiração abdominal, boné abaixado, a coluna numa rotina espiral de tentativa de acomodação: uma luta brava contra a lágrima.
Vencida, mas não sem poucos arranhões, uns sei lá quantos pontos perdidos contabilizados para a rinite, para o cisco que caiu no olho (vermelho).

Não são poucos os filmes que quase me fizeram chorar.
Mas este foi o menos quase dos últimos tempos.

Aliás, o pessoal do Cinemark Canoas (devo enviar uma carta desaforada nos próximos dias) devia deixar a luz apagada por mais tempo.
Olha o meu tamanho, já pensou o desastre? Eu até um boné vestia, tipo honrando um tipo bad ass canoense, daqueles que ficava de braço cruzado nas festas da Petrobrás e tomava três(!) cervejas – e ouvia reggaeira no carro, isso, no carro, evitando a van, especialmente a ‘escolar’.

Curioso nas cenas de choro (as tocantes) é que o são também por méritos artísticos, da forma e não somente do conteúdo; a flexão deste por aquela apela à eficiência marcial de seqüenciar golpes, como uma senha desencadeando uma reação, um acorde. E na composição a empatia com um baldinho abandonado tem o mesmo efeito lírico e estético de imaginarmos o Vinícius de Moraes dizendo ‘tenho medo, minha mãe’.
Além disso, brinquedo é uma sacanagem comigo: um índice de pureza é também índice de abandono quando abandonado. E somado ao tempo, a esta questão angustiante do tempo (a demanda da palavra saudade).
Tô nesta ilusão sem querer livrar-me dela, de nutrir alguma estima espontânea por objetos inanimados (o cacete que são).
E não estou sozinho naquela, vide a moedinha da qual fala Mario Quintana e também se pensarmos na música d’O Caderno, do C. Buarque de H., nota-se que até aquele cachaceiro que cínica e matematicamente explorava sentimentos notou nisso algo universalmente válido.

Aliás, já encontro eco bem mais perto (sem precisar apelar ao público autenticador do período anterior), já na minha irmã (e se pá a outra também fecha, entre tantas mais talvez pessoas próximas), que fecha comigo num argumento técnico-científico intuído. Sustenta ela, baseado num conhecimento não profissional, embora lá meio profundo, em física quântica, que todas as coisas têm átomos que se movimentam (fato, para usar uma palavra giriada do momento), e portanto nas suas partículas infinitesimais são vivas e mui parecidas umas com as outras (0/1 style) – mesmo uma pedra ou o vento. Isso se casa (e corrobora, já que os céticos ironicamente não podem derrubar as constatações mais simples mesmo com os mais sofisticados argumentos (vide ateísmo)) com a ilusão que desde criança não me importo em deixar de exibir (exibir porque a validade é para fins externos e explicativos, pois não há de ilusão nada nisso).
Um brinquedo brincado, um livro lido. São no mínimo um depósito de energias.
Daí para imaginá-los hiperativos e tristes esperando os donos quando abandonados (fi-lo sempre) é um tapa (dado pelo filme com suas alegorias).

Porquanto inda que não exatamente católico carrego no retrovisor interno do Tender Blue Thunder o rosário deixado por minha avó e não dispenso uns mental beijinhos simbólicos na ferradura (p/ o inferno os mal entendidos) cunhado pelo ferreiro Manoel, avô meu até 93, quando deve ter se tornado um tratador de animais no Éden ou um nuvenzeiro (olha que bonito isso).
Claro que anexada a esta conclusão rolou uma bobajada forte de praxe, sempre internamente engraçada (‘não lava o garfo que ele vai pegar gripe’ na voz daquele personagem-bisão que os broders e eu tanto encarnamos para rirmos, entre tantas não tão ruins). Riso e choro foram projetados para serem incontroláveis.


2 comentários:

  1. "riso e choro foram projetados para serem incontroláveis". curti muito isso. nada mais que a verdade em sua pura inocência.

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  2. Obrigado, LagaminereTechinocolor.
    Não pelo elogio em si, mas porque agora notei a frase; quase a não escrevera.

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