Apresento-lhes oficialmente a minha sobrinha, Luísa. Ela é filha de minha irmã de sangue com meu irmão de coração; este, inda que seja um polaco que em nada se parece comigo, é também da minha família, já há ¼ de século; aquela, embora obrigatoriamente tenha se criada comigo, por obrigação nenhuma sempre foi minha amiga, de troca de confidências, de viagens, de brincadeiras, um farol, alguém que sempre me ensinou a questionar, a ver diferente. E eis que, voltando ao assunto, eles juntos tiveram a Lúli.
Eu até já a homenageei escrevendo-lhe um poeminha, meio bobo para os meus padrões e anseios estéticos, mas incalculavelmente volumoso e absoluto em convicção, comparado às convicções tão diluídas que surgem de outros empreendimentos criativos, onde o que me encanta é a dúvida e as forjas de certeza – e os bebês são um pouco assim, uns seres humanos um tanto simples, mas que emanam tanto futuro próprio, tanto passado herdado e nos dão a dimensão do presente exata, quando nada mais à volta, à frente ou atrás importa.
Venho então lhas apresentar oficialmente, já que ela agora é também oficialmente minha afilhada (e que a minha amada e irrepreensivelmente linda de fofura e iluminada de alma Manuela não se enciúme, que ela tem seu lugar comigo). Minha afilhada e de minha esposa e de minha outra irmã (minha outra melhor amiga, aliás).
Luísa is luz e veio à luz no dia 18 do 5, 9 para as 9. Desde então ela me vem encantando, e não por nepotismo, mas por me jogar na cara este ordinariamente miraculoso caminho da vida humana: o bebê nasce e continua nascendo a cada dia: numa semana nasce sua visão, numa outra, sua noção, depois outra noção de algo que ainda não tinha noção; e quando vê, ela vê, ela olha, olho no olho, para ti (para mim!), donde que eu penso – “o que pensa ela? Como é esse pensamento livre das poluidoras palavras e antes delas conceitos? O que ela aprendeu de novo hoje? Que existe uma coisa amarela e outra vermelha? O quê?”. Dia desses, eu me esfolei estalando os dedos e funcionou: ela me olhou fixo, impressionada com o som e movimento: consegui chamar sua atenção! Ela, sei lá, tentando entender o que era aquele monte de cabelo e nariz, se era planta, animal, um planeta - mas nada disso importa por ora, é hora da novidade, e ela olhou para aquilo tudo e parou de chorar – e me fez só rir, sorrir. Pela vida que ela me mostra; e também por ela, só ela, sem conceitos e palavra, tentando equipar-me à sua instintiva pureza, sorver sua incontornável beleza, a raríssima beleza sem contraindicações.

[Publicado originalmente no http://facebook.com/joaogrando]
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