Detalhes do acrílico e óleo sobre tela de 113 x 200 cm; chamava-se "Tantoentre", passou a se chamar "GUERRA ET PAZ" (que vem se tornando um tema recorrente). A uns 93%, prestes a ser borgeanamente abandonada.
.^^.

terça-feira, 18 de novembro de 2014
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
Alzheimer temporário
Há uma fase do processo de memorização em que o dado se encontra em estado de gravação; temos Alzheimer relativamente à específica coisa encontrada em tal etapa. Aí há nisso aquele momento em que a fugidia memória recente (seja uma melodia, um rosto) surge claramente, como se nunca mais fosse desaparecer – e a lembrança em si vira um prazer, vira um reprodutor multimídia (incluindo aí mídias ainda não estabelecidas ou sequer inventadas) que toca um som, que lança um holograma da dimensão querida – estamos na nossa plena capacidade de lembrar (daquilo) – saudáveis (para aquilo), portanto – é possível inclusive animar o rosto ou ouvir outras versões da música. Um processo de associações começa a fim de que se mapeie, com recursos vários – associações, repetições etc. – , a lembrança; inda assim aos poucos a melodia passa a não mais fazer sentido (a letra, quando há, não cabe nela) ou o rosto começa a traçar outras características e proporções, às vezes confundindo-se com outros, às vezes virando um outro, uma atriz, uma outra pessoa conhecida, uma outra pessoa nada que ver – que talvez nem exista nos sete bilhões existentes ou quiça mesmo nos cem bilhões existidos. Constata-se que não se estava em lugar algum a não ser num pico cíclico da clareza que a lembrança maturando apenas alcança intermitentemente. Donde é preciso aguardar esperançosamente (e não sei o quanto esforço efetivamente colabora com isso) as sinapses se alinharem ou um novo acesso ao original, à luz primordial, à vibração presente (na passarela no mesmo horário, na hora do recreio, nas mais pedidas).
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Acerto errático enterrado pelo erro: achemo-lo
Lápis (grafite) demora para acabar e quando acaba é barato comprar outro (ou mesmo achar algum em casa perdido, alguém emprestar); caneta acaba mais rápido, mas é barato também, dá até para - em último caso - arrancar a acorrentada à bancada envidraçada do banco para depósitos em envelope, pegar a dos seguros, dos políticos - mesmo que seja o que tu não votas; papel há por tudo, há para caralho, com vários brancos (leia-se espaços sem tintas) disponíveis - o próprio envelope de agora há pouco, o guardanapo - em último caso - ou primeiro, em vista da urgência - há a gordura expelida pela pele na ponta do dedo para marcar a janela - sem contar a areia, a faca etc. Erremos. Erremos muito, sempre, que o acerto errático está ali, fossilizado pelo futuro eterno, para ser achado, dissecado, explorado, suposto, confundido com o erro que o enterrou e assim o protegeu dos outros para que a descoberta fosse tua. "Acertar o erro" abarca todo o espaço disponível em voltar do vermelho no centro do alvo - o céu, a própria cara (um flecha selfie); confundamo-nos que já não interessa, interessa cavar, olhar para cima, arriscar, a agulha no palheiro e olha o palheiro etc. Erremos.
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
Share it
Deixei de capturar, num intervalo temporal menor do que um dia, um vídeo e uma foto, ambos deveriam ficar altamente curtíveis. Ontem a certa altura de uma travessia pelo pampa gaúcho, do ângulo da janela do ônibus a linha do horizonte passou a coincidir intermitentemente com as linhas dos fios dos postes de eletricidade, ou seja, dada as suas naturezas geométricas, a linha reta e permanente do horizonte era atravessada pelas linhas parabólicas dos fios, que portanto ora estavam acima, ora abaixo, ora colados à linha do chão encontrando o céu: nada menos do que uma dança abstrata, mas figurando-se claramente numa valsa silenciosa e privada, exclusiva da minha visão (a maioria dos passageiros dormia àquela hora, eu mesmo pouco antes dormia também). Hoje, já não só fora de um confortável banco num ambiente climatizado conduzido por motores, mas também sob a chuva, movimentado pela força de minhas próprias pernas (numa ação burocrático de volta para casa), vi um morador de rua abraçando-se a um vira-latas: este parecia um humano, tamanho serenidade com que o fazia, sem lamber, sem estardalhaço; aquele parecia um cão, tamanha incondicionalidade do ato, que superava a chuva e a vergonha social, ali sentado na calçada no horário de pico, num carinho direto e puro, carinho não raro tão reprimido de desconfiança na nossa espécie – o fato de um parecer o outro denunciava o que eram: que não eram nenhum nem outro, mas apenas a mesma coisa, duas criaturas vivas cingidas por afeto.
Em ambos os casos, a bateria do meu celular acabara instantes antes desses instantes. Mas a da memória não.
domingo, 7 de setembro de 2014
Tantoentre_teste

Desenhos meus digitalizados neste esboço virtual.
Os mesmos desenhos estão virando uma pintura também (vide abaixo).
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Os céticos acham a Astrologia incrível
A Astrologia é incrível. A afirmação, que parece vinda de um surfista ou uma atriz global (a quem geralmente qualquer elogio pode ser substituído por “incrível” no vocabulário), se considerada literalmente, é a opinião de alguns céticos (os céticos acham Deus incrível). Administrar doses de ceticismo é sempre útil, mesmo para os místicos, a fim de que não se banalize o mágico, que realmente existe, mas não é tão fácil e romântico quanto a forma a que geralmente o submetem. Eu, embora respeite os que pensem assim (e não digo que não vá voltar atrás lá na frente), não acredito que Jesus tenha ressuscitado (sou da linha de pensamento crente que os apóstolos esconderam seu (“Seu”, aos que preferirem) cadáver e começaram daí a bola de neve que virou o Cristianismo), mas acredito que seu (“Seu”, enfim) legado de gentileza seja igualmente grandioso, mesmo dispensando esses efeitos especiais apelativos. Já disse outrora: “Uma dose constante de iconoclastia sempre faz bem a fim de equilibrar o deslumbramento e euforia estimulado pelo sensacionalismo com que os assuntos são tratados num corpus coletivo. Beethoven não é Beethoven porque compôs surdo; é-o porque compôs o que compôs, com muito trabalho, desejo, esforço e inspiração” – para não me repetir, ofereço-lhes tal texto através do link http://www.joaogrando.com/2014/04/idolo-pedestal-individuo.html). Enfim, trata-se de observar um filhote de urso e diferenciá-lo de sua versão de pelúcia.
Dito isso, posso lhes afirmar com segurança que reconheceria entre cem, trezentos, mil o meu mapa natal astrológico. Asseguro que mesmo no ineditismo lho reconheceria. Semelhante confiança, embora compulsoriamente menos certa, já que não estou em outras cabeças que não na minha, tive em relação a mapas e relatos de outrem. Creio, então por experiência própria, na eficácia da Astrologia. Tanto quanto creio que as ondas de rádio e a da cor vermelha são feitas da mesma coisa, como creio que os férmions são muitíssimo menores do que os comprimentos de onda que se fazem visíveis através da cor violeta, como creio que o desvio para o vermelho observado daqui significa que o observado se afasta, que nosso universo expande-se, portanto. Normalmente os argumentos para explicar o porquê de minha crença na Astrologia ser uma tolice dizem que ela é generalista para que encaixemos as nossas especificidades nela, donde temos uma matriz que carimba que somente previsões vagas são feitas, que é do cérebro humano evoluído ver sentido nas coisas: indiretamente dizem que eu (e minha inteligência incluída) ingenuamente nos iludiríamos com truques como esses, que eu não perceberia minha combinação de características – probabilisticamente dificílimas de se repetirem – identificadas no meu mapa, as quais denotam desde traços de personalidade reconhecidos por todos até aspectos mais íntimos, ser apenas como um modelo casual ao qual eu selecionei o que me interessava. Inda que não faça sentido físico a maneira como os astros se relacionam pelo nosso específico ponto de vista terrestre, inda que o caminho do Sol pelo céu do nosso ponto de vista cubra mais e de forma diferente o que definiu-se como zodíaco pela observação babilônica, será que nosso conjunto de fés não pode formar algo? Vejo a Astrologia como uma invenção humana. Surgiu da observação celeste, mas evoluiu disso até tornar-se um sistema específico, uma linguagem, uma ferramenta, com suas regras internas e, dentro de si, coerentes, que se pode desenvolver puramente, mas pode se aplicar, condicionada a quem o faça, ao uso humano. Neste sentido, não é diferente da matemática (que da contagem de bois hoje comprova o funcionamento do Universo), das línguas (que dos grunhidos misturados a gestos hoje estrutura nosso raciocínio).
O método científico indubitavelmente foi um dos principais motores da nossa evolução. Assim como o aumento do cuidado com a higiene. Mas mesmo essas duas unanimidades têm seus efeitos colaterais. Precisamos de pés no chão: na conotação metafórica, com a segurança do método, mas também, na conotação literal, para sujá-los. Talvez perdemos muito desprezando o não comprovável. E não podemos nos afastar do que nos estreou como Sapiens: os nossos rituais, a nossa mágica, a nossa aceitação de mistérios que podem funcionar por si só, inexplicavelmente. (Até porque quem poria a mão no fogo dizendo que a física não provará a alquimia, no futuro?) Como se a nossa semelhança genética, em nível de espécie, fosse, porque provada por método científico, superior ao misterioso engendramento – rotulado apenas de casualidade – que levou primeiro a nossos pais se conhecerem, depois a escolherem a palavra pelo qual seremos chamados a vida inteira. Não sugiro com isso que se deva dar mais (ou mesmo igual) importância à numerologia em relação à ciência, tampouco que não haja charlatanismo, mas eu não desprezo conhecimentos e estudos milenares contrastando alguns maus exemplos de seu uso a matérias científicas já consagradas.
Para derrubar uma cultura construída com colaborações incontáveis através de gerações e em lugares os mais distintos, há milênios, o que os céticos fazem? Comparam vidas de gêmeos, verificam se previsões objetivas de astrólogos se cumpriram, testam a ingenuidade de pessoas (quaisquer) as submetendo a testes com soluções casuais abrangentes para provar que elas, como ratos de laboratórios, acharão suas especificidades ali contidas. Enquanto no Céu, que, pasmemos, não é, neste caso, nem a nossa atmosfera de azul claro privado tampouco o vasto vácuo incalculável sideral, mas apenas uma dimensão intangível, os Signos, com sua carne erigida por séculos e séculos embalados por milênios de sincronizada imaginação humana, evoluída de uma leve trama de saberes até, espessada pela fé das pessoas, tornar-se primeiro tecido, depois ossatura e finalmente corpo, o imponente Carneiro de Áries, a puríssima Virgem, a precisa e justa balança de Libra riem-se das bombas feitas de planilhas de Excel alimentadas por dados e porcentagens, lançadas por frágeis e perecíveis completadores de padrões e formulários, cuja crença no que conhecem vale-lhes por tudo o que existe e poderia existir. Como se o magnífico Centauro de Sagitário ou o conteúdo de magnitude e forma livremente voláteis da área do Aquário fossem desperdiçar suas energias para ajudar os que querem os (não) comprovar em vez de remeter seu conhecimento acumulado das nossas próprias mentes para ajudar algum espírito sincero que queira alguma esperança, alguma clarividência, algum autoconhecimento que não se baseie em padrões de amostragem. Como se nada além do comprovável nascesse conosco.
Meu mapa astrológico natal, cortesia de http://www.personare.com.br/.
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Forma x conteúdo
Percebemos, só de viver, só pelo nosso humor, que o espírito tem dimensão incalculavelmente volátil em relação à dos limites científicos impostos pelo corpo: às vezes nosso espírito está tão pequeno que parece não ter força para percorrer o então denso túnel do braço, a ponto de não alcançar a mão e muito menos o dedo para pressionar o botão do controle remoto, que se dirá para levantar toda aquela medida de ossos, órgãos e gravidade da inércia segurada pelo sofá. Porém, noutras vezes – para apenas comparar os extremos opostos –, num movimento que podemos chamar erupção, o espírito varre qualquer materialidade regular, do ponto infinitesimalmente mais interior a qualquer zênite externo de coisa medível, e parece que o corpo (já agora um vácuo) não contém tal avalanche multidirecional e, a fim de evitar uma explosão, reage disfuncionalmente – dado não estar colhendo seu alimento, não estar cuidando de sua cria, não estar se defendendo de um adversário – para dispersar o espírito excedente em (exemplifico com dedos nervosos à procura de um teclado ou caneta) texto, imagem, ato corajoso, choro, riso, grito, soco, beijo, ataque de nervos.
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