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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

2012, 21/12

(Ainda a ser revisado, mas para não perder a data já publiquei.)
Disponível para visualização em PDF ou o texto completo na própria postagem logo abaixo:


UM CARRO QUE EU ACHO BONITO é a quarta geração (2005-2011) do Hyundai Azera. Ele sintetiza o shape de carro presente no nosso inconsciente (que atende desde o VW Santana até o Ford Maverick), com o ritmo do volume das limusines, daquela caidinha na traseira que os Rolls-royce atuais têm. É interessante esta aplicação prática do design, ou seja, quando ele dá forma a um produto para uso possível, com limites financeiros e conceituais impostos para seus criadores traduzirem tendências e as disponibilizarem aos consumidores comuns –até hoje sinto saudades da relação estética que tinha com meu Trovão Azul, um Renault Clio geração 2003-2005 (um primor visual de fechamento indefectível). Claro que nada que um Jaguar S-Type de 2004 não tenha, mas aí já sai da categoria comum.
Pois que vi um Azera usando seu motor V6 para contornar o shopping Canoas e o fitei com admiração burocrática, daqueles olhares já acostumados, como os lançados aos nossos animais de estimação diariamente. A surpresa que já não estava na forma veio do conteúdo: do interior da querida peça de design projetou-se um punho cerrado pela janela recém aberta, que curiosamente iniciou seu protesto ao descerrar-se, insurgindo-se contra todos os preconceitos envolvendo a relação diretamente proporcional entre educação formal, educação pura e capacidade financeira: precipitou-se da mão aberta uma bolinha de papel.
Imediatamente tratei de imaginar a mão adornada de dourados – a última a tocar o papel, protagonista da ação, portanto – presa à bolinha, puxada por ela qual o Pequeno Príncipe e seu cometa, espatifando na sarjeta e, ainda se recuperando do joelho ralado (o sapato de salto foi parar lá no bueiro, assustando um rato – aliás, atrapalhando sua labuta diária de limpar a cidade), ver uma sombra crescente a cobrindo, de uma bola de papel com três vezes o tamanho da madame, o fracasso crescente da queda evoluindo para o grand finale em estrépito do encontro, a bola de papel repentinamente substituindo a sombra, como nos movimentos ilusórios dos GIF. animados, onde um quadro vazio seguido de outro cheio dão a sensação de surgimento abrupto (só não a imaginei levantando um cartaz escrito “help!” à Willie E. Coyote pois era de tom sério o episódio produzido).
Excedendo a hipótese de se tratar de um exame positivo que era para ser negativo, motivadora de um desabafo gestual, ou outra exceção de mesma qualidade emocional, como uma carta da amante do marido, ou uma carta do próprio amante, motivadora então de uma eliminação urgente, não há ignorância ou preguiça que justifique (embora explique) fazer com o que não se quer mais que se pertença pertencer sem conssentimento ao passeio público.

Enquanto ponderava se fosse o caso, excluí a lançada possibilidade de exceção: a mesma mão do mesmo braço do mesmo cérebro retornara para dentro do carro, donde, carregada de papéis maiores e nem amassados, um catálogo de folders recebidos nos sinais vermelhos, fez uma chuva de folhas A4 e o caralho a quatro.
Desta vez os panfletos laminavam cortes em toda a estrutura revestida de trade marks seletivas da madame, e os maiores, aqueles de comprar na planta umas suítes miraculosamente transformadas em apartamentos de três quartos pelos exemplares decorados e paredes de gesso cartonado, certeiramente causavam-lhe algumas mutilações, até a derradeira decepada extrair do pescoço a cabeça, que rolou para junto do rato, que lambeu o sangue da abertura no local da degola.
Mas saí do concreto imaginário para o concreto real, e o braço continuou lá, não mutilado, anônimo, fechou o vidro da porta para não perder seu ar uns quinze graus abaixo da temperatura pública e seguiu seu caminho.
O ouro no braço dela certamente ficou de cara: ele sabe de onde veio.


NO REPERTÓRIO DE SONS NO DICIONÁRIO DE STRESS o canto da cigarra significa “ainda não fui às compras natalinas” e “mormaço”. O Dicionário de Sensações entanto nos diz que há uma tarde extra, que vem depois da tarde de trabalho, que há luzes piscando nas casas: vem um verão, virá um Natal e virão férias – embora dure o verão inteiro, o canto é notável no início de dezembro pela falta de costume de ouvi-lo. Enfim, trata-se do vindouro solstício de dezembro, que marca, em termos meteorológicos, o meio-dia do ano no hemisfério sul.

Semana passada 37 graus centígrados à sombra; mas realmente sob a sombra a longa distância entre os trinta e sete risquinhos e o zero torna-se uma vibração suportável, até interessante na medida em que nos nivela com a atmosfera do sangue. Venta até uma brisa. O calor era para deixar nosso corpo feliz (se fôssemos aves voaríamos para cá), mas uma moralista calça nos oprime a expressão líquida e a sudorese, que como um óleo de defesa nos deixaria mais lisos para escapar das garras do oponente e brilhantes para os rituais de acasalamento, rebaixa-se a uma indesejada goma entre a camisa e as costas; estas sofrem, aquela diz, para os outros ouvirem, “tu és civilizado, não sues” (o moralismo age assim: esconde o que inexoravelmente existe para parecer que poderia não existir).
Provavelmente nossos antepassados respeitavam o sol a pino (é o momento dEle brilhar, embora brilhar seja, mas que sua rotina, sua respiração), não sabiam o que era meio-dia, então se submetiam a Ele como um leão a outro, alfa, ou seja, deixando que banhasse os personagens imóveis da natureza enquanto descansavam à sombra; à medida que Ele se enturmava, passando a esquentar mais coisas que não pedras e terra, concomitantemente ao Seu aparente denunciado pela aproximação do horizonte (para os antepassados de que falo era o Sol que se movia no nosso céu bidimensional, era o nosso ponto de vista a verdade, numa vitória da imagem sobre seu conceito), eles o recebiam felizmente até a chegada da confortável noite de verão (que nem sabiam ser verão até determinado ponto). As sociedades evoluíram, e as zonas frias cada vez mais souberam se proteger do frio, alcançando tamanha eficácia a ponto de se permitirem investir esforços nas superfluidades (em nível de sobrevivência, porque para vivência o belo é tão ou mais importante que o útil, como diria Victor Hugo). Porém a zona tropical importou as tradições subtropicais, que por sua vez foram importadas em relevante porção da Inglaterra, que está mais para Ártico do que para Amazônia: fizemos uma chapinha topográfica, cobrimos nossa exuberância com pisos primeiro de pedra e depois também de asfalto, e passamos nalgum momento a vestir terno e gravata às quatorze horas, revestindo-nos nós mesmos de pisos esquemáticos.
Pensemos no ano 1.000 (a.C ou d.C., não importa), no ano 5.000 d.C.: sempre que suspendemos nossa existência da atualidade e de seus costumes e a deixamos num ponto possível de se observar centenas, milhares de anos, alguns absurdos se tornam claros: deveríamos resgatar parte de nossa essência indígena e instituir trajes seminus formais. Uma vez esta nova cultura assentada, certamente não precisaríamos de tantos condicionadores de ar (e consequentemente de tantas indústrias, de tantos itinerários coincidentes – inclusive no horário –, de tantas hidrelétricas etc.) se usássemos o que a Terra nos fornece desde que a invadimos nos infinitesimais lotes expelidos pelas estrelas – porque a Terra sempre que pode quer se esfriar, com a lama, a água, a terra, com seu carbono, é de sua natureza racional (porque esconde um inconsciente incandescente) equilibrar o duelo com o Sol. De minha parte, devo começar providenciando uma tela tipo mosquiteiro para a janela a fim de poupar o split durante o sono ordinário, usando o resfriamento fornecido gratuitamente pela madrugada.

Não reclamaria do calor, não reclamaria vinte graus se vivesse num brasil civilizado à sua maneira, utopicamente presente tanto no vazio do poderia-ter-sido quanto na lacuna do poderá-ser; neste país, haveria(rá?), numa síntese da pureza rural com a funcionalidade urbana, árvores frutíferas fornecendo merendas no caminho entre a casa e o trabalho, com quilos de grama para pisarmos, poças para refrescarmos os pés descalços, sombras para checarmos nossas mensagens eletrônicas.

A sociedade tem a importante missão de impedir que as pessoas sejam realmente quem são. Ou quem realmente poderiam ser. Ou ao menos permitir que se fosse. Ou, numa visão mais favorável ao trabalho eficaz desta complexa trama a que chamamos sociedade, fornecer modelos, uns dois desvios-padrão para confortavelmente adequar quem não quer observar (embora em vasta medida ele seja aceito conscientemente, ou seja, após observação aprovada); cria-se então uma série de novos hábitos, quase elevados a instintos, congruentes numa teia de necessidades (banho diário, escova de dentes, tinturas, roupas, escrita, definição de refeições, não matar, mentir para a verdade parecer boa etc.) que se demandam mutuamente. Dentre as exigências mais recentes, temos este aparelho nos acompanhando diariamente, dizendo onde se está, computando nossa localização geográfica, servindo de meio de chamado mesmo quando se está sozinho e em lugar nenhum, entre lugares – e muito maior do que um chaveiro, dispensando mais um obrigatório bolso, gaveta, ou mesmo a mão para carregá-lo ao abrigo da chuva, algo mais para não se esquecer, para não perder, para monitorar a posse. Há dez anos eu já era um dinossauro causando inquéritos por não possuir um deles. Mas chegou a minha hora: cansei de anotar coisas em papéis para passar a limpo em casa, ou de descrever cenas que poderia ter filmado, ou de perder a oportunidade (timing melhor que tempo aqui) da publicação, ou, e principalmente, de depender dos telefones públicos, antes pontos que nos forçavam a conhecer a cidade na busca de comunicação, hoje quase extintos (onde o Clark Kent trocaria de roupa hoje em dia?). Não raro tive de dar toque a cobrar do orelhão para então atendê-lo, ou ter de parar em casa para telefonar, ou avisar minha chegada através de uma invasiva campainha, sem agenda. Há pouco, agorinha, efetuei meu primeiro histórico telefonema através de um deles (foi filmado por outro deles). Não mais anotar o número no papel; não mais segurar o telefone entre o ombro e a bochecha enquanto se procura um nome na agenda; não mais desenrolar o fio cacheado que liga a base à parte que fala e ouve, enquanto se repleta de felicidade com um chamado querido, tantas vezes utopicamente previsto e desapontados e enfim atendido; não mais discar com o polegar da mão esquerda enquanto o da mão direita enumera as possibilidades de combinações numéricas de um contato conhecido; não mais debruçar-se sob a sombra do orelhão assistindo o movimento: a tecnologia nos leva considerável parte da graça, da galhardia (a mensagem, o Google, a marcação em vez da palpitante primeira palavra).

A história nunca escondi de ninguém: em maio passado comecei os estudos para escolher meu primeiro aparelho; escolhi; passei então duas semanas com um protótipo em papel do exemplar para ver se me adequaria às dimensões; comprei o aparelho; até então ele permaneceu sem chip, configurando-se num câmera menor e mais leve do que a profissional, num despertador, numa agenda e num agregador de aplicativos para se usar dentro de casa. Hoje, aos vinte e um de dezembro de dois mil e doze, quero ver o Mundo segurar essa (Maias, meus amigos, estou fazendo a minha parte para honrar a duração de vosso calendário):




95% dos elefantes de uma reserva na África foram exterminados durante uma guerra civil por soldados que tiveram sua juventude sacrificada para cumprir a ganância de seus soberanos, cuja meta geralmente os levava efetivamente a nada mais do que ostentação. As maiores bestas vivas, os tigres, que em natureza fazem lanche do vilão maior dos contos infantis, o lobo, e do urso um almoço desesperado, são assassinados sem combates sem lógica de mérito (como explicar uma arma de fogo a um animal?) para extraírem de seus dentes viagras placebianos. Enquanto isso as livrarias seguem cheias; as bibliotecas, vazias.

O progresso fatalmente consumirá toda a natureza, colocando amostragens delas em escaninhos para visitação e comprovação de que um dia houve um mundo com duelos pela vida, por comida, houve um mundo em que uns comiam os outros, e era belíssimo, era puro, era inexplicável por dispensar explicação.

Os céticos e os crentes em sua maioria defendem suas respectivas teses com parcialidade, como se o conhecimento tese
É o de querer mais do que a rotina, a ganância, ou a ambição

A evolução da sociedade não deixa de ser a aceitação do que era considerado covardia e estabelecimento de novos e mais sutis pundonores e sublimação das iras. A entropia do método fabrica um mar de ansiedade, uma massa homogênea com o que eram nossas vontades, talentos, instintos etc. misturados e dispensados pelos nossos dínamos, desperdiçando mais e mais seu trabalho enquanto as ações, os lugares, as vontades, os deveres, as pessoas, a violência, a contrição, a calma, a urgência, a aceitação, o levante etc. estão descompassados. Como os adjetivos, que manipulam os significados conforme convém à manutenção da normalidade, da continuidade preguiçosa e covarde: o corajoso vira ridículo, a covardia ora vira selvageria, ora civilidade. Civilidade e selvageria têm suas potências mal canalizadas em usos estéreis: somos selvagens ao falarmos de nossos semelhantes e civilizados com nossos desejos.

A maioria prefere maldizer, distorcer, acreditar no distorcido, rir do que riem, chorar do que choram, apontar para o que apontam, deslumbrar-se conforme o sensacionalismo lhes orienta; suas intuições e até experiências (ainda que as intuições sejam experiências a priori) sucumbem aos resultados de amostragens, questionam a si, mas seguem fielmente o que ouvem de entidades estabelecidas por pilares rarefeitos, mas volumosos, e não observam algo se já foi descrita sua observação etc. (e vós sabeis o contido nestes cætera). O sujeito plural que conjuga isso tudo é ela, a mesma maioria.
E quando é para liderar, forjam cenários (guerras, governos, notícias etc.) para predarem os semelhantes sem a coragem de uma luta explicável.
Compreendo que talvez se trate de um sistema de contraste para fomentar as exceções, alavancadas pela sua minoria, mas esta proporção poderia seguir mesmo com a parte maior mudando para o que hoje me parece mérito e deveria ser obrigação. A força da natureza através de seus vulcões, mares, movimentos, ventos e mesmo de suas ferramentas não domésticas, como asteroides e cometas, minaria este processo. Eu sigo prostituindo meu cérebro cobrando impostos,
Na nona onda ao ritmo da nona sinfonia talvez o fim do fim do mundo seja a exigência de se viver ineditamente.

Este mundo acabou. Até amanhã.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Motivacional #1

Motivacional nº. 1
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Pela diligência espontânea da busca pela perfeição conceituada pessoalmente (sabida, denotando fé em cada ação, como um urso pardo que sente cheiro de salmão e tem certeza disso, bastando apenas cavar até achar a origem), que autoriza a liberdade social ao desprezar suas conveções por contraste de importância.

p.s.: Ludwig representaria o contínuo trabalho árduo (Aristóteles, Ronaldo, Leonardo) e Michelângelo a brilhante inspiração (Platão, Romário, Mozart), mas bem se sabe que tais acomodações são encaixadas a marretadas.

Próximos: grupo do tigre, grupo do Everest, grupo do Sol etc.
Próximo uso: capítulo (coming soon).



terça-feira, 27 de novembro de 2012

Esteio: novo adesivo

Sonho de consumo em Esteio, Sapucaia, Canoas, Tramandaí, Quintão, Portão etc.:



Escolhas do editor (carangas ideais para usar o adesivo):
*Kadett branco G.S.I rebaixado com rodado 18" cromado;
*Miura Sport amarelo;
*Chevette tubarão bege, desde que devidamente adesivado nos pára-brisas traseiro e dianteiro

Uma vez, na saudosa Albatroz, o Guinho (@amaralgamaral) me disse que adesivo da Puma ou da Playboy devia dar 10 pontos na carteira; logo em seguida, por uma dessas arriadas de Deus, passou um Golf (que parecia um buggy, devido às rodas extrapolando a carroceria) à beira da praia interrompendo nosso futebol com os dois adesivos um em cada lado da placa: 20 PTS PERDEU A CARTEIRA!


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

apolíneo / dionisíaco | panaca / terrorista

Chega, em plena primavera alta, o horário de verão, repletando de lazer nossas rotinas semanais; é o horário novo e com ele novamente a hora de se despedir da tradicional pelagem de inverno, composta pelo corte estilo imigrante na razão de espessura bigode > barba, de estrutura clássica, pré-hipster, com ornamentação espiral das sedas supra lábio superior; ano que vem, com a época das chuvas e dos ventos, retorna-se ao visual mais favorável à proteção da pele. 

Não há saídas: com a barba é talibã; sem ela, aquela cara de panaca.

A novidade deste ano é que o gel Bozano que tomei de empréstimo do Mestre dos Magos exala uma fragrância de Chevette Hatch, o que me leva numa viagem pelo tempo aos 80’s e dá um tom de expectativa, já típico do verão vindouro, anunciado pelo seu horário especial. 
Ou talvez no índice de sensações eu tenha tagueado improvisadamente o banco recém saído da fábrica da Chevrolet, e me precipitado na interpretação do odor, alocando-o forçadamente numa fôrma na qual coincidem apenas algumas notas sintéticas de conservantes. Se bem que que novidade desnecessária, nada que ver; mas até ano que vem, bigode e barba, e bem-vindas de volta (após meses) lâminas, espumas, bagunça na pia e todos os envolvidos. Let's be imberbe! 

#theButhcer #Luigi #VdeVingança #Osama #Dom #DoutroEzequiel #séculoXIX #Borat



quinta-feira, 4 de outubro de 2012

30


Há 30 anos e 1 dia atrás eu nasci. 30, a soma de Pelé, Messi e Maradonna. Ou a soma de Cruyff, Garrincha e o Romário (sacrificando sua 11 por uma 9 de sua posição pela perfeita combinação). Ou 3 Pelés, pronto.
30: se cada ano vivido fosse um ponto na tabela da série A do campeonato brasileiro de futebol, neste exato momento estaria à frente do Coritiba, Sport, Palmeiras, Figueirense e Atlético Goianense, salvo da zona de rebaixamento. E válido lembrar que, ao menos no filme de Richard Donner, foi a idade de Superman começar a trabalhar (como super-herói). 

Até ontem não tinha (ou não era, se fosse em inglês), 30 anos, agora (os) tenho. 
Ou seja, se pegássemos um transferidor (aquela régua circular escalonada em 360 graus), cada grau seria um mês vivido (alguns, acentuados, vívidos). Cada risquinho daqueles seria aquele prazo de 30 dias que nós esperamos para receber certos documentos ou (aí mais ou menos) certas manifestações cíclicas da natureza. 
Devido aos 30, ouvi desde a óbvia associação a Joãosinho Trinta (inclusive por mim motivada) até os conselhos alarmistas (ainda que leves e gentis) quanto à velhice chegando. Garanto, no entanto, que permanecerei o mesmo ABOBADO de sempre, aliás, como nunca. 



Aproveito o espaço aqui cedido por mim mesmo para agradecer a todas as felicitações e boas coisas desejadas para mim. Embora não me importe com os esquecimentos (afinal não é nada demais), as explicitações mesmo singelas ou por vezes sistemáticas dos que lembram sempre me alegram: até porque eu acredito em seus teores. Não raro minhas respostas às felicitações são maiores do que as próprias felicitações (o comentário maior do que a mensagem no mural), disparando um discurso que era mais apropriado ser recebido, e que não o é pela sufocante réplica irregularmente por mim emitida. Talvez sinal de insegurança, ou de generosidade, ou de carência, ou de desprendimento, ou de narcisismo, ou de humildade, ou de nada (provavelmente). 
E ressonou hoje na sensação de decolagem, sintetizadora de nostalgia e expectativa que naturalmente perfuma a atmosfera de mudança pessoal de década, reforçada pelos acontecimentos pessoais, a descoberta de que a deocolônia que exclusivamente uso desde os 15 anos (cujo cheiro me lembra “hoje tive coragem e falei com ela” por fatos da época) saiu de linha e não será mais fabricada. Primeiro a reforma no salão, depois os 30, outras coisas no meio, e agora isso. “Du mußt dein Leben ändern”.

Por fim, O link seguinte é de meu perfil no meu site, cunhado lá em 2007, e que se baseia neste evento digamos "bem importante" que é o nascimento: 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

#chupaKALIL

As regras de etiqueta são como técnicas de dança: servem quando deixam a coisa regida mais bonita, mais eficiente.

Excetuando isso, cabe lembrar que uma tradição não raro é a sacralização de algo de origem casual, e, no caso da etiqueta, geralmente algum hábito inglês obsoleto que pode (claro que pode! Como proibir? Quem não deixaria, multaria?) ser subvertido por uma nova regra pessoal, de lógica estética ou comportamental que a valide.

Se souber ou sentir por que, levante-se contra a ovelhalização do gosto e vista-se.

Daqui a mil anos é provável que as regras mudem, e talvez um Homo sapiens do ano 3000 veja, diretamente de seu dispositivo visual multimídia (algo como uma nano smart TV) acoplado à retina, uma imagem sua de terno branco e gravata dourada, ou mesmo usando uma prática pochete, e fique do seu lado e não do da Glória Kalil.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Como alterar interpretativamente o sentido de uma seta




Sempre que via rios em mapas parecia-me que seu sentido era diferente do curso natural, ou seja, a nascente parecia o fim e a foz parecia o início, como se fossem galhos de uma árvore. 
O mesmo não acontecia com setas. A seta dificilmente deixa dúvidas de sua direção.
Exemplo:
-----> significa que é à direita
<---- significa que é à esquerda etc. 

Porém, se desassociarmos o vértice da seta-símbolo da ponta de uma flecha (quando forem triângulos é um pouco diferente) e aplicarmos nele outra predefinição (o funcionamento da leitura), a de duas partes que estavam unidas se abrindo, como uma boca (estilo Pac Man), nossa percepção se adapta: 
nele como uma boca se abrindo (estilo Pac Man), nossa percepção se adapta
fig. 3
< - - - - aqui já vemos Pac Man

Passei então, na tarde de hoje, a associar setas a uma direção diferente, como na imagem
interpretativamente 

Notem que usei uma seta para dar a origem subvertida de outra. 

terça-feira, 31 de julho de 2012

tempo seco


O endurecimento do presente por pequenos atos irreversíveis seca o interior de uma forma única de tempo-espaço. Esses atos (como queimar um palito de fósforo ou misturar café com leite¹) são nós feitos no caminho natural de ida e volta disponíveis na direção de qualquer linha, ou simplesmente qualquer direção num caminho de qualquer formato. Dado os lados serem sempre referencias – por exemplo “baixo” é do lado mais próximo da ação gravidade, enquanto cima é onde ela está mais diluída (não fosse assim, o céu poderia vir de baixo) –, o caminho num só sentido só é explicável se há um impedimento do outro sentido.  

O futuro não é um caminho à frente, é simplesmente o presente continuar acontecendo.
Enguiçar a possibilidade de acontecimento (imediata, no presente, e possível, nesta abstração da nossa percepção consciente a que chamamos futuro) gera o passado.

Portanto a imensa maioria das viagens ao passado concebidas na ficção só o são ficcionais: o caminho voltaria, só não volta porque não há como.
Não é uma questão de tempo, é uma questão de impossibilidade de desfazer algo – se miraculosamente fosse desfeito (“voltando”, portanto – o que talvez seja uma mágica possível somente na retroatividade contábil, isso se desprezarmos seu contexto de origem factual, bem mais sofisticado, e nos mantermos apenas na sua abstração matemática), nada garantiria que seria refeito nos mesmos moldes (os números da loteria seriam outros).

Tal qual um muro que cresce porque se põe tijolos, e do qual estimamos a altura por saber ser possível pôr mais tijolos ainda. Uma agenda em papel tradicional, se usada como é para ser usada, é uma metáfora pronta para uso.

Assim, a idade acontece mais devidamente a evolução de etapas do que a medidas universais e uniformes.
O passado é só o que passa, e não o tempo que passou; não é devido ao tempo que as coisas passam, mas devido às ações que o tempo sobra, e à sobra damos a direção da frente.
(Talvez possamos então ter passados particulares ainda vivos, abertos, alteráveis, porque podemos voltar até eles: eles são, então, nosso presente.)

Há que se diariamente esquecer o passado que não te deixa ser, por que satisfaz, envergonha, avisa etc., a fim de cair de paraquedas nas possibilidades disponíveis aos vivos e, com o presente nas mãos, adivinhando-o, construí-lo, mesmo quando ele for passado ou futuro².
Adivinhar o presente; e adivinhar o futuro fazendo o presente, somando à parte não pertencente a nós, de Deus³, portanto.


1 vide a teoria de entropia e tempo, desenvolvida por físicos como Sean Carrol [livro From eternity to here, de 2010], autor do exemplo do café com leite. 
3 Deus estará sempre no que não sabemos, na nossa ignorância e fé evoluídas. 

terça-feira, 24 de julho de 2012

terça-feira, 10 de julho de 2012

[minha] vida eterna

Se a vida Se o tempo do universo começou junto do com o universo, então não havia antes; quem sou eu para não repetir o mesmo que o universo? Isso faz, de certa forma, da vida que vivo uma vida eterna.



[comporá nalguns meses um outro projeto meu, multiplataforma, em andamento atualmente]

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Emelianenko vs. Zangief | brutalidade_delicadeza

Jamais conceberíamos Minotauro, Royce Gracie, Jon Jones, CroCop, Wanderley Silva, Tim Sylvia, Anderson Silva, Mark Coleman, Ricardo Arona, Cigano ou qualquer outro lutador famoso empunhando um lápis para desenhar um cândido esquilinho. Pois o homem que em seu auge vencera (ou no meu prognóstico indubitavelmente venceria) todos eles, o maior lutador de MMA da história, fê-lo, como vemos na imagem à esquerda. Ele usa as mesmas mãos outrora autoras de ataques brutais para expressar delicadamente seu espírito sereno.  

O gordinho de olhar cabisbaixo transformava brutamontes musculosos em sacos de pancada, substituía a marra por humildade, nunca se curvou para Dana White, tinha uma rotina de treinos que desprezava a tecnologia avançada do esporte. E era como uma convergência dos clichês de vítima no colégio numa grande vingança contra os valentões com casacos de capitão (à maneira da reação épica e libertadora do Casey Heynes, o Zangief Kid).

A sua excentricidade justamente num dos campos de mais fácil aplicação de clichês, o dos lutadores, prova que era uma bênção (e como todo grande dom nato também uma cruz a carregar, extravasar) sua capacidade de resistir, reagir, machucar: Emelianenko era lutador por causa da luta, era lutador dentro do ringue, era artista por causa de sua arte (que, como a de qualquer gênio, deixa de levar adjetivos, deixa, no caso dele, de ser marcial, como a visual deixava de ser só visual para Da Vinci, ou mesmo como o automobilismo deixava de ser somente carro e tempo para Senna): não tinha escolha, tão maior o ofício em relação ao seu executor. Associo o russo muito a Pelé, pela formatação de seu dinamismo (equilíbrio clássico que faz com que, pela falta de contraste, nenhuma característica se torne especialidade, mas estejam todas à altura dos especialistas) e a J. S. Bach, pela maneira de enfrentar a criação (sua arte) como uma engenharia, coma a busca de uma maneira correta, e, portanto, uma solução rápida, eficaz, limpa – e finalmente nisso também o associo a um tigre e ao seu caçar: silencioso, sumário, prático (mas não por isso menos magnífico). [Se quiser, vide pág. 234 de VÁ.pdf#-1]

Ele não olhava nos olhos do adversário na palestra pré-touch gloves do árbitro. Terminava a luta e a primeira coisa que fazia é ver como está (como deixou) o adversário, para logo após cumprimentar a sua equipe. Sem bater no peito, sem intimações. Se pudesse acabar uma luta e ir embora, provavelmente faria isso.

Constantemente revejo suas lutas – tenho todas salvas em casa (estas novas obras de arte que existem somente desde o século passado: os momentos gravados), o que me permite retraçar seu caminho, os episódios de seu surgimento e consagração. Soa engraçado rever a sua luta contra Heath Herring, ouvir os narradores americanos aos 6:25 do 1º round dizer que ambos mereceriam o cinturão, momento exato em que Herring sofre uma das tantas brutais investidas de Fedor, as quais culminaria na eliminação do oponente (então favorito) por nocaute técnico. É engraçado ver os caras do Sportv dizendo que "o russo não é bom na trocação" na luta contra Arona (bem menos equilibrada do que parece), e os brasileiros pensando ele ser somente um coadjuvante (pois bem capaz que um gordinho com cara de bom moço ganharia do típico pitboy-surfista-saradão-com-cara-de-mau).
A descrença, a necessidade de provas para que underdogs se projetem, fazem parte do projeto, são o pano de fundo ideal para nos impressionarmos com um fenômeno.



Página de uma história em que Fedor enfrentaria Zangief.
 Há diversos momentos clássicos em highlights do Youtube, como a kimura aplicada em Kevin Randleman logo após sofrer um duro pilão. Mas nada como acompanhar uma luta completa e ter a noção de todos os aspectos que envolvem um combate. E um dos maiores já presenciados foi quando ele conquistou o cinturão de pesos-pesados do Pride: chega a dar pena de Antônio Rodrigo “Minotauro” Nogueira, nada mais que um gigante de mais 1m90cm e 100kg, especialista em Boxe, Jiu Jitsu e Judô*, uma lenda viva das lutas, que fica com um olhar de olhos negros de cachorro após a histórica luta de 16 de março de 2003, arrancando lágrimas de uma espectadora, tamanha moléstia sofrida pelo então campeão (embora a luta tenha sido bem mais equilibrada do que parece – em verdade, esta foi a maior luta que eu já vi e, se tivesse mais segurança (adquirida por uma audiência mais intensa) para afirmar, poderia dizer que foi a maior luta do Pride, e talvez a maior de todos os tempos do MMA (claro que há clássicos primordiais como todas de Royce Gracie no UFC I e II, além de lutas que foram protagonizadas pelo russo e pelo brasileiro contra outros adversário, como CroCop vs. Fedor, Minotauro vs. CroCop, Minotauro vs. Sapp etc., mas o confronto da explosividade de Fedor com a incrível resistência de Minotauro, que consegue quase encaixar uma finalização logo após seu pior momento na luta, no final do primeiro round, quando acabara de ser atropelado por Fedor, e a ousadia de Emelianenko em trabalhar quase o tempo inteiro na guarda ardilosa do nosso grande ídolo brasileiro proporcionaram um espetáculo da arte de lutar, uma lição a ser vista por todos)).

A primeira derrota efetiva de Fedor (passou mais de uma década invicto entre os pesos pesados, categoria onde os cinturões costumam passear bastante) foi condizente com a sua simplicidade; contra o gaúcho Fabrício “Vai Cavalo” Werdum, meio “o que aconteceu? Já acabou? O Fedor perdeu? Assim?”. Foi na luta seguinte, porém, que o Último Imperador realmente caiu. Apesar de Pezão ser brasileiro (como eu), apesar de ele ser do jiu jitsu (como eu), eu estava do lado contrário da minha vizinhança. E ver Fedor apanhar não foi somente como ver o Grêmio perder – quando um time queda, há uma torcida unida se confortando –, foi como ver um amigo apanhando sem poder fazer nada. Nunca mais revi a luta. Esportivamente foi uma das minhas maiores tristezas. E como não sei se tristeza diferencia tipo, fiquei triste à época. Ou, para ser mais universal, foi como assistir à queda de um leão que fora soberano e se depara pela primeira vez com a submissão, donde começa a perder seu bando (e função) para se tornar um solitário errante e deixar a glória no passado.

Emelianenko tentando encaixar a chave de pé no Antônio Silva sem projetar uma mínima ameaça lembra o boi velho do Simões Lopes Neto ajeitando, moribundo, a cabeça no carretão.

No último dia 21, sem alarde no Brasil, onde o assunto era a quase luta Wanderlei vs. Belfort e o confronto de seus discípulos oriundos de um Reality Show (relativamente à massa, a Globo ainda determina, apesar da internet, boa parte de nossa história e mainstream (a história viva?), por isso de um grande cantor Roberto Carlos virou Rei, por isso de um grande humorista Chico Anysio virou “O maior humorista”), Fedor Emelianenko, um atleta lendário, do nível de Ali, Pelé, Senna, Federer, Comaneci, Jordan, Plushenko, Slater e (uns poucos) outros, aposentou-se.
Quando descobri seus desenhos, inda lá em 2009, alegrei-me de saber que no dia que encontrá-lo teria um assunto, além do signo solar Libra em comum e submission, para falar com ele, e dar-lhe umas dicas para se aperfeiçoar nas suas incursões gráficas.


*quando escrevi a base deste texto, Minotauro ainda não era tão popular para o público leigo quanto é agora, então a apresentão não era dispensável.

Mais alguns esboços de história de Fedor vs. Zangief: 







 




Zangief versão primo do Brutus (Popeye)



E outros desenhos do lendário russo:

  

terça-feira, 26 de junho de 2012

Google Maps

Empolgado pelo boom facebookiano do vespertino de hoje do ISSOS, que eu já conhecia (sempre ligado nas produções do munuzus), resolvi tirar da gaveta este ceuzinho aí.
Aliás, embora acompanhe como disse há pouco, deixei escapar este belo post: 
http://issos.tumblr.com/post/13849145966: embora o meu não seja tão estiloso, e nem em português, e sem a economia de palavras, e sem a autenticidade de não ter assinatura etc., o meu dialoga com ele:

terça-feira, 19 de junho de 2012

OS PRIMEIROS SERÃO OS ÚLTIMOS #1


1ºs_últimos nº1: Alexandre Inagaki
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1º post: http://www.fimdamente.org/logopeia/2000_12_01_arquivos.shtml [no fim da página]



Quando os anos deixaram de começar com 19, Alexandre Inagaki postou suas primeiras palavras na internet. Foram elas justamente “o primeiro passo”.

Isso lhe credita zombar (mas ele não o faria) de quem se gaba (quem se gabaria?) de estar no Twitter desde 2007 (o que, aliás, é o seu caso).

Talvez Ina (que devido à sua popularidade involuntariamente autoriza todos a terem uma intimidade em nível vocativo – tal como chamamos Chico Buarque só Chico, Ivete Sangalo só Ivete etc.), como todo grande iniciador, devia acreditar tanto na sua investida porque no fundo já sabia que o futuro era verdade.
Apesar que não é lá de grande risco, sob outra ótica: ele foi escrevendo e, quando vê, matéria de capa de revista (eu o conheci assim), quando vê, essa coisa toda (de o blog ficar tão grande e o tempo tão curto que um não cabe quase mais no outro).


Mas não há risco nisso? No próprio Pensar Enlouquece um dos últimos posts, escrito por Ana Carolina Moreno, divaga sobre a exposição nas variadas mídias sociais. E isso que hoje as pessoas aparecem de tudo quanto é jeito (nuas, chorando, em momentos íntimos (e nuas), reclamando, em plena euforia e compartilhado na hora da euforia etc.) e, geralmente, voluntariamente.

Mas e à época? Começar um diário que subversivamente pode ser lido por todos? Acho que aí está a coragem, geralmente em igual tamanho da crença, no desbravador Inagaki.

Ele termina com “Next, please. ;-)”: dentro deste “next” apareceram Facebook, Twitter, Instagram, Google, celular com filmagem full HD, touchscreen, Song Pop e, mais do que tudo isso, um novo tipo de profissão (da qual ele é profissional). O simpático emoction com texto simples ali usado [ ;-) ] mal sabia que seus futuros colegas evoluiriam para memes com contexto próprio, imagens-significado, gifs que valem menos que mil palavras e poderiam estar num dicionário, numa febre de enormes piadas internas (internet).
O que era apenas um novo meio de comunicação se transformou através de um processo inflacionário e transformou a vida cotidiana, colocando-a sob os holofotes, dando teoricamente microfone a todos, e tudo aquilo que presenciamos desde então.


E o Inão está aí, fazendo da revolução digital uma sinédoque, adaptando-se, sempre lembrado, sempre lembrando, estrela da casa, surgido da maré e não da praia, pegando a onda no início da onda (curioso que “nunca” foi a única palavra em caps lock no texto de estreia).

Nele, o então estudante Alexandre, abertamente falando sobre a sua (então?) timidez com as garotas, confessava que não arriscava com elas, e que assim perdera provavelmente oportunidades tantas, mas arriscou (não irei cair na tentação de comparar a internet a uma garota) abrir o livro e ganhou ali uma grande oportunidade. Apesar de assumidamente um procrastinador anônimo, deixou o amanhã para hoje.





A fórmula é simples: resgatar o 1º post de alguns blogs, pessoas etc. Afinal, ele está tão disponível quanto os outros, mas geralmente fica abandonado nesta internet que só vê resultados de buscas e conteúdos de última hora, numa injusta arqueologia de momento. Mais do que o primeiro post de um blog, a intenção é ver a primeira aparição da pessoa na história da internet. Estou acho que desde de 2008 p/ executar a série, que se inicia apenas hoje, por pura preguiça (o que já é uma desculpa antecipada para a possível inexistência ou provável demora do nº2). 

meu 1º post oficial foi post nº2: 1º post mas não foi o verdadeiro primeiro
meu 1º tweet: http://twitter.com/joaogrando/status/948155915 

quinta-feira, 14 de junho de 2012

1990/91


“Publiquei” em 1991, na 2ª série, então com 8 anos (alfabetizara-me um ano antes), um livro completo, encadernado, sobre animais.
Antes disso, houve vários projetos iniciados, mas aquele foi o primeiro que terminei (e nas páginas finais nota-se já minha insistência forçada para tê-lo atingido, denunciada na desconcentração, e esta denunciada na aplicação bem mais diluída do lápis de cor e textos cada vez menores – tanto que por hábito guardava a página do tigre sempre para 78 ou 87, e não consegui chegar até lá, deixando o Panthera tigris na 68 mesmo).


Na ocasião, a minha professora Núbia (e a diretora, e o pessoal da livraria Pappus que encadernou) ficou orgulhosíssima, e divulgou para toda turma 21, aumentando a fama de CDF que carregava à época (fama que no ano seguinte se subverteria descambando para a ala frequentadora da coordenação e SOE para todo o restante da vida escolar, sem entanto (e modéstia à parte) prejudicar as notas); na divulgação, ela escolheu aleatoriamente um capítulo, que era o do Alossauro, vermelho, com um vulcão ao fundo (inspirado num livrinho colecionável da Elma Chips), com uns trezentos dentes,  e curiosamente, era o artigo que mais continha erros de português. Os demais animais não eram extintos, muito menos há milhões de anos. Eram lobos, gnus, cães etc. Todos exibiam invariavelmente seu órgão sexual (talvez estivesse relacionada com os descobertas que fazia de mim mesmo e das meninas (porque as tetas também apareciam), mas pelo que lembro (e me lembro bem) era mais uma tentativa de fidelidade e classificação científica do que uma expressão espontânea). Em breve digitalizá-lo-ei tal qual o fiz com o que apresento a seguir.


Antes, no verão do mesmo ano, entre dezembro de 90 e janeiro de 91, compramos um caderno no Mercado da Dª Nair (se me não engano), na gloriosa e sempre saudosa Albatroz (um balneário, mas que leva o artigo feminino pois para nós sempre foi e será a ideia libertadora de praia), também porque era o que me acalmava, aliado à brincadeira Pu (uma hora falo mais sobre isso, mas basicamente consistia em um totem de bolso que me permitia criar imaginativamente qualquer coisa, com diálogos, efeitos sonoros, reinvenção de notícias, de jogos de futebol comigo no lugar do protagonista etc., mas que externamente era apenas eu falando e gesticulando sozinho com um pedaço de lego), enfim, era o que acalmava o piá nos locos dias de verano.


A inspiração para este caderno foi um gibi do Fantasma, comprado num artesanato, de qual foram tomadas algumas referências visuais, e uma enciclopédia de animais, da qual alterava deliberadamente os dados (para mim não era suficiente a gama de presas grandes que um tigre já tinha (cervos, javalis, búfalos e até ursos e filhotes de rinocerontes) , ele tinha que caçar também hipopótamos (o que, sabemos, é geograficamente impossível)).
Há alguns motores e caminhões no meio dos animais, frutos de umas revistas da época que o vizinho da frente (o Dodo) emprestou (aliás, pararei por ora de listar os detalhes, se não acabarei por descrever o verão inteiro).


 

Lançamento de coelho: hábito do Puma concolor, segundo minhas pesquisas científicas imaginárias
     


 

Minha liberdade poética se dava, como disse antes, na subversão dos dados, como a observação de que, com uma patada, um Puma (Puma concolor) pode lançar um coelho a 2 quilômetros (!) de distância, ou a velocidade do leopardo (280 km/h), que só é alcançada por a de alguns falconiformes em pleno voo e em pleno mergulho. Gosto especialmente da história em quadrinhos que se inicia na página 16 (pág. 3, da reprodução parcial no fim deste post); nela já exercitava minha análise crítica e já a exercia involuntariamente: o título “A Natureza”, diz, mais do que a intenção ambiental à época, muito sobre a natureza humana, tratando do trágico e clássico tema da vingança. Nesta história meu fôlego também se mostrou de menino, já que não sabia que final dar-lhe, e precisava disso para ir p/ a próxima página (fascinante e terrível exercício de escrever um livro exatamente como se o lê, ou seja, página por página, em ordem, e usando os dois lados da folha), donde que minha prima Analice (hoje mãe de minha afilhada Manuela), tascou-me o lápis da mão e resolveu a parada, ganhando para o meu todo sempre particular esta coautoria.
Destaco os nomes Maik, Joe e Biler, além de alguns trechos em que a leitura dos balões é invertida, ao estilo mangá.
A minha parte favorita é aqui, na página 26: embora pareça a marca do desenho no verso, lembro-me bem que este traço suave, ao fundo, da mãe do tigre morta é um recurso de linguagem muito comum no cinema: a imagem de uma cena anterior (tal e qual) transposta, sugerindo a lembrança do filhote; tanto que para fazer este flashback, usei o mesmo desenho no quadrinho da tigresa morta que aparece antes, porém com o lápis bem leve, para iludir transparência.
Nisso certamente ele se aproxima do homem morcego, cujo olhar da criança recém tornada abruptamente órfã se fixa no olhar culpado do assassino.


Flashback na apropriação translúcida do quadrino anterior



Enfim, alguns trechos exibidos parcialmente no documento abaixo (disponível para download (acho melhor visualizar direto em PDF, para quem se prestar no link http://issuu.com/joaogrando/docs/1990):


quinta-feira, 31 de maio de 2012

Big Bang individual ao contrário

A vida toda passar no instante antes da morte não tem nada que ver com um vídeo ou uma apresentação de slides em altas rotações; é sim um acúmulo sequencial de sensações abruptamente revivido (o quase pleonasmo subentendido na essência sequencial da ação acumular está aqui para denotar um acúmulo²).


Tudo o que foi vivido é a extensão de uma mesma energia, que se distende em passado, futuro e presente; no tecido esticado revelam-se pequenas ranhuras apreendidas como tristeza, euforia, paz, fúria, paixão, medo, vitória, jantar, curativo, beijo, prédio, gasoso, premonição, girafa, distância entre a cadeira e a mesa, computador estragado, poste no ponto de destino do carro desgovernado, ver, sono, João, sim, talvez (...) etc.


Na morte, esta faixa espaço-temporal se recolhe a um estado compacto, como um Big Bang ao contrário - um estado de densidade e calor máximos: alguns lembram do calor, e a chamam inferno; outros, da densidade, e a chamam paraíso.


Pois se no acúmulo está o tempo atrelado compulsoriamente ao espaço, a duração se adapta à exata medida de tempo que usamos: é a vida toda, não há dúvida: dura a vida toda de novo: a memória toda lembrada de uma vez, sem entanto haver ocorrência possível de vez – a essência do zero.


À medida que a cosmologia avança, ela parece estar desvendando um crime, e o crime se parece muito com o que os budistas, cristãos, gregos clássicos, indianos antigos e tantos outros povos testemunharam.
Um furacão estudado, do qual a destruição, a parte destruída, a parte preservado, tudo é perceptível, mas o epicentro é sempre uma interrogação.


O limite pode não ser o fim, mas de além dele não sabemos; é como o limite do nosso campo de visão o limite da nossa memória, e como eles o limite do nosso universo.

terça-feira, 8 de maio de 2012

O tempo é favorito

No último 13 de outubro (o de 2011, portanto), escrevi isso, via twitter: “A verdade é que Cronos nunca deixou de devorar seus filhos. Ou ele tem praticado slow food e curtido cada um de nós, ou nossas medidas espaço-temporais, relativas para um titã, fazem de nós grãos variados que ele almoça/janta dia a dia, como arroz”.

Refleti à época que Cronos segue devorando seus filhos, até hoje, a despeito de aparentemente Zeus ter assumido o trono, e depois dele Jesus, e depois Dele, a ciência e o consciente coletivo. Claro, a metáfora é clara: Cronos é a abstração do tempo, quando, segundo a mitologia (cada vez mais corroborada pela ciência, através da astrofísica), só havia o tempo, por ter se rebentado de quando nem o tempo havia ainda.

Enfim, se houvesse uma competição geral entre todas as coisas que existem, o tempo seria o favorito pela vitória (o tempo sempre vence).

Soa desanimador a crua verdade: não podemos contra o tempo.

E aí que devemos ouvir a Bíblia B, os ditados populares: se não pode contra ele, junte-se a ele.

A paciência é a maneira que nós, humanos, as coisas mais engenhosas conhecidas, inventamos para levar o tempo no colo para, sem mais nem menos, e sem ao menos perceber, percebermos que em dado momento (e momento é com ele mesmo), ele que nos passou a levar no colo.

Então tenhamos paciência: tudo acontecerá, arrumar-se-á, venceremos tudo (ou não mais a derrota importará).

quinta-feira, 26 de abril de 2012

efeito fácil



vintedoze


A idade mais comum no
mundo (moda, em estatística)
é 29 anos.
2012 é (também) um
Retorno de Saturno coletivo.
E o ano do Dragão.
O GRRRRRRRRR
de cada um a ser
EXORCIZADO.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Esboço sobre tela

Esboço (já na tela) de uma série vindoura de pinturas (já projetadas (imaginadas, psicografadas, paridas, desenterradas, capturadas), inda que submetidas à intermitente reavaliação), às quais deverei oferecer, além das horas de sempre, ainda outras mais furtadas das atividades dedicadas à televisão, futricação em redes sociais, jantares, sonos etc. Até porque já há um outro bocado demandada por vídeos, textos, peças e o que der e vier. Mas valerá a pena - quero ver, fazer para as ver. Ou quiçá ainda confie no sopetão de minha execução gráfica veloz e não furte hora alguma das fundamentais banalidades. Mas quero as ver, exijam o que exigirem, o tempo de as alcançar é meu e é este, a duração que nem se apresente (e ah, madrugadas, aí vou eu).

 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Malandragem

Cumpriu anos no último dia 1º (sim, de abril, e ai de quem fizer piada com isso).

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